Cortesia
de wikipedia e jdact
«(…) Fontes coreanas assinalam a
presença de portugueses no ambiente imperial, onde se teriam beneficiado com os
serviços de um guia e de um intérprete, o negociante muçulmano Khójja Asan. Em
México-Tenochtitlán e na mesma época, Hernán Cortés encontra Moctezuma, o chefe
da Tríplice Aliança ou, se preferir, o imperador dos astecas.
Os
dois imperadores
Primeiro, Zhengde. Em junho de
1505, em Beijing, Zhu Houzhao sucedeu ao seu pai, o imperador Hongzhi, sob o
nome imperial de Zhengde. Tendo subido ao trono aos catorze anos, o décimo
imperador Ming morrerá em 1521. O seu reinado foi depreciado pelos cronistas.
Se dermos crédito a eles, Zhengde teria abandonado os assuntos do Estado para
se entregar a uma vida de prazeres. Preferia viajar para fora da Cidade
Proibida, deixando que os seus eunucos predadores amealhassem fortunas. Na
verdade, Zhengde era um guerreiro que se esforçava para fugir à tutela da alta administração
a fim de reatar com a tradição de abertura, para não dizer de cosmopolitismo, da
precedente dinastia mongol, os Yuan. Passava a maior parte do seu tempo fora do
palácio imperial e gostava de se rodear de monges tibetanos, clérigos
muçulmanos, artistas oriundos da Ásia Central, guarda-costas jurchen e
mongóis, quando não frequentava as embaixadas estrangeiras de passagem por
Beijing. Ele teria até proibido o consumo de porco para melhorar as suas
relações com as potências muçulmanas da Ásia Central. Em 1518 e 1519, Zhengde
conduziu pessoalmente campanhas militares no norte, contra os mongóis, e no
sul, em Jiangxi. Em 1521, decide liquidar um príncipe rebelde e manda
executá-lo em Tongzhou. A sua imagem não sairá engrandecida desse episódio.
Pelo menos, essa é a impressão deixada pelas crónicas oficiais e pelas gazetas
aparecidas após a sua morte, que são unânimes em fazer do seu reinado uma era
de transtornos e de declínio (moshi). Êxodo de camponeses para as minas
e as cidades, ascensão dos parvenus, revolução das tradições, costumes
locais varridos pelas mudanças, cobranças abusivas perpetradas pela administração,
mal-estar e agitação da plebe, boom do contrabando com os japoneses, o balanço
que a história oficial reteve não é muito brilhante. Sem contar as catástrofes
naturais, a inundação e a fome de 1511, que ninguém hesita em lançar à conta da
crise que atinge a sociedade. Ao mesmo tempo, são incontáveis as novas
fortunas, a produção aumentou por toda parte e o comércio internacional é mais
próspero do que nunca.
Em 1520, o senhor da China,
embriagado, cai do barco imperial nas águas do Grande Canal, a principal
artéria que liga o norte ao sul do país. A febre ou a pneumonia que ele contrai
após esse banho forçado o matará no ano seguinte, em 20 de Abril, com trinta
anos. Como a água é o elemento do dragão, alguns cronistas acreditaram que os
dragões foram responsáveis pelo seu fim. Alguns meses antes, criaturas
estranhas teriam perturbado a calma das ruas de Beijing. Atacavam os passantes,
ferindo-os com as suas garras. Eram chamadas de sombrias aflições. O ministério
da Guerra se encarregou de estabelecer a ordem e os boatos se dissiparam.
Zhengde, que sempre se mostrara curioso por coisas estrangeiras, havia
encontrado os portugueses da embaixada pouco antes de morrer. Mas, aos olhos de
seus contemporâneos e sucessores, o episódio permanecerá insignificante. Não lhe
valerá o renome póstumo e trágico que se ligará à pessoa do tlatoani de
México-Tenochtitlán, Moctezuma Xoyocotzin. Um filme feito em 1959, Kingdom
and the Beauty, Reino e a beleza, em plena época comunista, não bastará
para imortalizar as extravagâncias de um soberano que se disfarçava de homem do
povo para se entregar aos prazeres». In Serge Gruzinski, A Águia e o Dragão,
Edições 70, 2015, ISBN 978-972-441-844-5.
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