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O
Hospital Real das Caldas de Lafões
«(…) A provedoria de Aires Almeyda
Sousa foi longa, pois, em 1616, vinte anos depois da nomeação, era ainda
provedor, como se lê no frontispício da Chronographia Medicinal das Caldas de Alafoens,
que Pires Sylva dedica a Duarte d'Almeida Sousa, filho primogénito de Aires
Almeyda. Nos Almeydas da Cavalaria continuou a administração, terminando com Gonçalo
Almeyda Sousa Sá, a quem João V concedeu a mercê, em 1713. Passou a
administração para os corregedores, como provedores ou contadores da Fazenda. O
Corregedor era o inspector do Hospital e o Juiz do Couto era o sub-inspector.
Com a extinção do concelho de Lafões,
o Banho foi integrado no então criado concelho de S. Pedro do Sul e a
administração das Caldas passa para a Câmara deste concelho, por portaria de 12
de Novembro de 1839. Mais tarde, a propriedade do Estabelecimento das Caldas
foi confirmada por Carta de Lei de 21 de Maio de 1878 e, novamente, por Alvará
de 17 de Fevereiro de 1910. Com os dados de que dispomos, vejamos as características
e modo de funcionamento do Hospital Real das Caldas de Lafões. Tinha
características próprias que lhe advinham do facto de ser um hospital termal.
De algum modo, Manuel I, ao criar este hospital, seguiu o exemplo da irmã, a rainha
viúva dona Leonor, fundadora do Hospital das Caldas da Rainha, guardadas as
devidas diferenças de proporção entre os dois hospitais. Sabe-se que vários
hospitais do reino vieram a ter Regimentos inspirados no das Caldas da Rainha.
É bem possível que, entre eles, se encontre o de Lafões, com maioria de razão
por ser um hospital termal.
Já vimos que a carta de nomeação
do primeiro provedor (1502), pelas obrigações que nela estavam consignadas,
pode considerar-se o primeiro regimento para a administração do Hospital. No
manuscrito da Biblioteca da Ajuda, o Desembargo do Paço, em 1592, limita-se a
repetir as mesmas obrigações. Só um século depois, em 1696, com a publicação da
… Chronographia Medicinal das Caldas de Alafoens…, temos notícia detalha da da
orgânica do Hospital. O autor, médico das Caldas, descreve, até ao pormenor, o
seu modo de funcionamento. Começa com a descrição da piscina onde o rei se
banhou, pelo que ficou conhecida por .Piscina dom Afonso Henriques, . Dela fez
a planta, que tem sido reproduzida por quantos têm abordado este tema.
E nós a reproduzimos também,
acrescentando-lhe os pontos cardeais e confrontações, para melhor clarificação.
No lado poente da planta,
assinala o ..Camarote de […], mas, não obstante os pormenores a que desce, não
diz quem era este dom Fernando. E nenhum dos autores que têm escrito sobre as
Termas levanta este problema. Não se trata do rei Fernando I. Não se conhece
qualquer notícia de que lá tenha estado. Se tal tivesse acontecido, Pires Sylva
não deixaria de o tratar por rei. Também não cremos que se trate de Fernando
Pedro, aquele senhor de Lafões referido no foral de 1152. Se tal fosse, o autor
da ...Chronographia…, não omitiria Pedro, já que, no texto, sempre o trata por
Fernando Pedro, que, de resto, como vimos, já era morto quando veio o Rei. A
designação de Camarote de dom Fernando, deve ser mais tardia. Poderia, talvez,
referir-se ao 2.º duque de Viseu. É apenas uma hipótese. O próprio Sylva escreveu:
por morte de dom Henrique, que succedeo aos 1460. Foi seruido o Senhor Affonso
V dar o senhorio do Concelho, & Caldas de Alafoens a seu irmão o Serhor dom
Fernartdo, Infante, e Condestavel de Portugal, e Mestre das Ordens de Christo,
I Santiago.
A planta não assinala o antigo
banho das mulheres, mas Sylva descreve-o. Seria, quasi subterraneo e a ele se
passaria por uma porta, nas costas do banho dos homens e se desceria por uma
escada de pedra. Janelas de grades que descobriam um e outro banho, ao tempo
transformadas em portas, mostrão (?) que ouve nas casas, junto ao banho das
mulheres, alguma casa particular, donde alguma Pessoa Real, por evitar a
prolixidade das continencias, & cortesias uia, sem ser vista, o modo de
tomar banhos…» In António Nazaré Oliveira, Termas de S. Pedro do Sul, Antigas Caldas
de Lafões, Palimage Editores, Viseu, 2002, ISBN 972-857-538-6.
Cortesia de PalimageE/JDACT