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de wikipedia e jdact
As
Cruzadas
«(…) O jovem refreou o seu cavalo
bem junto dela e falou com ela, e ela ouviu todas as palavras, entendeu tudo,
mas ao mesmo tempo não entendeu nada. Mas Sigrid sabia que o que ele disse significava
que ela teria de dar a Deus um presente, que, no momento, era a atitude mais necessária,
neste condado, onde o rei Sverker reinava, isto é, dar um bom lugar para os monges
de Lurõ. Mais tarde, ela observou bem os monges, à medida que saíam lentamente,
após a sua longa apresentação. Não pareciam nem um pouco perturbados pelo
milagre que tinham acabado de provocar. Parecia mais como se eles tivessem
terminado um turno de trabalho, de quebrar pedra, um entre tantos outros turnos
na Götaland Ocidental, como se eles, agora, estivessem pensando mais na ceia do
que em qualquer outra coisa. Tinham conversado por um momento, coçado por um
momento as manchas vermelhas que muitos deles exibiam nas carecas
grosseiramente raspadas. Em muitos a pele era enrugada no rosto e no pescoço. Para
eles, as coisas não eram muito fáceis em Lurõ, qualquer um podia ver isso, e o
Inverno, certamente, não lhes fora muito benigno. Portanto, a vontade de Deus não
era difícil de entender, aqueles que conseguiam cantar milagres precisavam
receber um lugar melhor para viver e para trabalhar. E Varnhem era um lugar
muito bom. Quando saiu pela escada da catedral, a sua mente clareou por efeito
do vento fresco que soprava, e ela entendeu, num golpe repentino de inspiração,
quase como se estivesse ainda possuída pelo Espírito Santo, o que e como devia
dizer para o marido que vinha na sua direcção naquela confusão toda, com os mantos
no braço. Ela examinou-o, com um sorriso meio discreto, mas totalmente seguro.
Ela mantinha essa relação porque ele era um marido tranquilo e um pai
extremoso, embora não fosse o tipo de homem para ser venerado ou admirado. Era
difícil acreditar que ele, de facto, fosse neto de um homem totalmente
diferente, o fortíssimo Folke, o Gordo. Magnus era um homem magro e, se não
fossem as roupas estrangeiras que no momento ele vestia, as pessoas poderiam
dizer que se tratava de um qualquer no meio da multidão.
Quando chegou à sua frente, ele
fez uma vénia e pediu a ela para pegar o seu manto enquanto ele envolvia o próprio
corpo com o seu grande manto azul-celeste, forrado com pele de marta, prendendo-o
ao pescoço com uma fivela norueguesa de prata. Depois, ajudou-a, ensaiando uma
carícia com suas mãos delicadas, que não eram as mãos de um guerreiro, e
perguntou como é que tinha podido aguentar por tanto tempo as louvações ao
Senhor no seu bem-aventurado estado. Ela respondeu que não tinha passado por
nenhuma dificuldade, já que, em parte, tinha trazido Sot para ampará-la e, por
outro lado, o Espírito Santo dignou-se aparecer para ela. Disse isso de uma
maneira que costumava usar quando dava a entender que não falava a sério. Ele
sorriu da sua esposa, acreditando que se tratava de mais uma das habituais
brincadeiras, e procurou em seguida pelo escudeiro que vinha na sua direcção
com a espada trazida da sala de armas. Quando meteu a espada por baixo do manto
e começou a colocá-la no cinturão, os seus cotovelos ficaram por baixo do
manto, o que fez com que o seu corpo parecesse largo e forte, coisa que ele não
era. Então, ofereceu à mulher o seu braço e perguntou se ela queria dar uma
voltinha pela praça diante deles e ver o espectáculo ou queria ir imediatamente
descansar.
Sigrid
respondeu logo que gostaria de esticar um pouco as pernas, sem precisar cair de
joelhos a toda a hora, e ele sorriu timidamente de mais essa piada atrevida
dela e comentou que seria até divertido ver todos esses jogos para os quais o
rei os convidou. No centro da praça actuavam acrobatas franceses e um homem que
vomitava fogo, tocavam-se flautas e gaitas e, mais além, de uma das grandes
barracas de cerveja escutava-se o som surdo de tambores. Os dois avançaram
cuidadosamente entre a multidão onde os mais conceituados visitantes da igreja
agora se misturavam com o povo e os servos. Depois de um curto momento, ela
inspirou profundamente e disse tudo de uma vez, sem desvios: Magnus, meu
querido marido, espero que você se possa manter superiormente calmo e digno, ao
escutar agora aquilo que acabo de fazer, começou ela e, fazendo nova inspiração,
continuou rápido, antes que ele tivesse tempo de responder: Dei a minha palavra
ao rei Sverker de que ofereceria de presente aos monges cistercienses de Lurõ a
nossa propriedade de Varnhem. Jamais poderei retirar a minha palavra dada ao
rei, é irrevogável. Vamos-nos encontrar com ele amanhã no castelo, para que
isso seja escrito e ractificado com o sigilo real». In Jan Guillou, A Caminho de
Jerusalém, As Cruzadas, Editora Bertrand Brasil, Grupo Editorial Record, 2002,
ISBN 978-852-860-896-0.
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