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Poetas Santões e Filósofos do Ocidente do Ocidente
«(…) Um outro texto, Al-Mann Bil-Imama do
bejense Ibn Sahib Al-Sala aborda a história dos almóadas e de algum modo um
pouco da história política no actual Alentejo e Algarve. Escreveu também o Kitab al-Muridin (Livro dos Adeptos),
hoje perdido e que seria indispensável para o estudo do movimento dos muridines
no sul do nosso território e no ocidente peninsular.
Os poetas perdem-se como
abelhas ao redor do favo do poder. Mas alguns erguem-se a grande altura. Cantam
os saraus nocturnos, o vinho, o amor, os jardins, a água, a paisagem
humanizada. Aqui e ali ensaiam a especulação filosófica. No século XI sopra uma
brisa de audácia e de liberdade com toda a ambiguidade que esta palavra
carrega. Almutamide (+1095), natural de Beja, governador de Silves e rei
de Sevilha entre 1069 e 1091, rodeou-se de literatos, historiadores, poetas
como o seu amigo Ibn Amar, a sua mulher Itimad Romaiquia (ex-escrava de Romaiq)
e seu filho Arradi ibn al-Mutamid, governador de Mértola.
A vida do rei poeta
originou toda uma epopeia. Na batalha de Zalaca foi ferido seis vezes e não
arredou pé até à vitória. Pouco depois, os seus aliados almorávidas, com o favor
dos alfaquis de Sevilha, conquistaram a cidade e degolaram-lhe dois filhos à
sua vista. A nora Zaida tornou-se concubina de Afonso VI de Leão e de Castela
enquanto o filho Arradi era morto à traição pelos almorávidas em Mértola. Almutamide
morre cativo em Agmat, no Atlas sobranceiro a Marraquexe. A caminho do desterro
escreveu o poema:
Saíram para pedir a
chuva e disse-lhes:
Pudessem
as minhas lágrimas
substituir a chuva
que reclamais.
Responderam-me: é
verdade, nas tuas lágrimas
encontraríamos
o bastante. Mas de que
nos serviriam elas
se estão misturadas com sangue?
Noutro dos seus poemas,
propõe uma ética dos prazeres, que certamente haveria de chocar os alfaquis, ao
mesmo tempo que esclarecia a sua ideia do sábio:
Acaso te deixarás
conduzir pela tristeza
até à morte
quando o alaúde e o
vinho fresco
estão aí à tua espera?
Que as preocupações não
se tornem
senhoras de ti
enquanto a taça for uma
espada cintilante
na tua mão.
Conduzir-se como sage é
deixar-se assaltar
pelas preocupações até
ao mais fundo
de si mesmo:
Ser sage para mim é não
ser sage.
Ibn Mucana Alisbuni Alcabdaq (o lisboeta, o de Alcabideche)
(+pouco depois de 1068) cantou os bois de lavra, os javalis que assolavam as
hortas, as abóboras, as cebolas, os moinhos de vento». In António Borges Coelho, Tópicos para a História da Civilização e das
Ideias no Gharb al-Ândalus, Instituto Camões, Colecção Lazúli, 1999,
IAG-Artes Gráficas, ISBN 972-566-205-9.
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