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Com
a devida vénia a João Tiago Santos Costa
«(…)
Contudo, a sua importância não passava meramente por questões de ordem estratégica
em função do contexto de cruzada peninsular, mas também porque as condições
geográficas e climáticas da região permitiam afirmá-la como uma zona de grande
potencial económico, com elevada aptidão agrícola, cinegética, de exploração de
minérios, de recursos piscícolas, entre outros, factores estes que importam
agora sistematizar brevemente para que melhor se compreenda a fixação, na longa
cronologia, de comunidades humanas neste território.
Na mesma linha do restante Portugal
mediterrânico, na expressão de Orlando Ribeiro, o relevo na área ocupada pelo
perímetro do termo de Palmela não ultrapassava os 400m de altitude. Aliás, o
limite máximo observado diz respeito a um cerro da Serra de S. Luís, junto ao
limite Su-sudoeste de Palmela, com 350m de altura. As restantes serranias não
atingem sequer os 300m, ficando-se, o Louro, a Oeste do núcleo urbano, a 230m,
S. Luís, a Sul do mesmo, a 220m e o cerro do castelo pelos 230m de altitude. Não
obstante, esta sucessão de outeiros, pese embora apresentem altitudes relativamente
baixas, originou uma variedade de encostas e vales abrigados que apresentam uma
grande vocação arbórea, cinegética e agrícola, muitos deles pontuados por
cursos de água que irrigavam toda a região.
Para além disso, estas elevações,
numa zona que apenas a Sul e a Sudoeste apresenta cumes maiores já na Serra da
Arrábida, contígua ao território de Palmela, proporcionavam também um vasto
campo visual em seu redor, permitindo mesmo, em certos dias, vislumbrar uma
linha do horizonte que se estende até ao Rio Tejo, para Norte, e à costa
alentejana, para Su-sueste.
Este relevo é também ele
gerenciador do clima, criando zonas abrigadas dos predominantes ventos de Norte
e Noroeste e contribuindo também para o elevado potencial agrícola da região. Palmela,
mercê de um posicionamento dicotómico, simultaneamente localidade de interior,
mas na mesma sujeita à influência do clima litorâneo, apresenta as características
dos climas mediterrânico e atlântico: um Verão quente e seco e um Inverno ameno,
sujeito a perturbações de influência oceânica, nomeadamente ao nível da precipitação
e dos ventos de Oeste, húmidos, facilmente sentidos nos cerros mais altos da região.
Este clima, balanceado entre os
calores estivais e as chuvas, se bem que moderadas, do Inverno, contribui para
a criação de bacias hidrográficas que dão origem por sua vez a vários cursos de
água, alguns deles navegáveis apesar de a tendência no Sul de Portugal ser a de
cursos de água com caudais menos fortes e regulares que os do Norte. Esta
abundância de água, também ela condicionante dos processos e da intensidade da
ocupação humana na região, visível, por exemplo, no fértil Vale de Barris, ao
longo do qual corria a Ribeira de Córdova, obrigava na mesma a uma correcta gestão
deste recurso que irrigava campos agrícolas, mas que também era usado como força
motriz em engenhos moageiros.
Para
além deste ribeiro de Córdova, igualmente denominado na documentação medieval
como ribeiro grande ou ribeiro dos Barris, encontramos os ribeiros de Águas
Bravas, Maldachas e Ervedeira, assim como o do Livramento, também ele navegável,
que entroncava com o de Córdova acabando por desaguar no Sado, e o da Marateca,
no limite Este do território de Palmela. Podemos assim entrever a presença, em
termos tipológicos, de água doce em movimento, ribeiros, que seria também
viveiro faunístico, fluindo todo o ano, e de água doce que apenas derivaria em
determinadas alturas do ano, águas vertentes, em consequência de períodos de
chuvas que formariam os caudais destas que engrossariam os das primeiras». In João
Tiago S. Costa, Palmela. O Espaço e as Gentes. Séculos (XII-XVI), Tese de
Doutoramento em História Medieval, FCT, FSE, MEC, QREN-POPH, 2016.
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