Cortesia
de wikipedia e jdact
«(…) A estranha sensação que
Emily sentira correndo pela sua pele agora tinha sido substituída por
verdadeiros arrepios. Um assassinato no campus do Carleton College era algo
inaudito. Mas o assassinato de um colega… O efeito da notícia combinou choque a
uma espécie muito genuína de medo. Ele foi perseguido no corredor, acrescentou
Aileen. Encontraram sangue do lado de fora do gabinete dele. Eu não vi por
dentro. A voz dela fraquejou. Ela olhou para Emily. Você não notou a presença
da polícia no campus? Emily estava entorpecida com a notícia. Ela tinha visto
viaturas da polícia quando estacionava o seu carro antes da aula da manhã, mas
não tinha dado muita atenção ao facto. A polícia não era uma presença
totalmente incomum num campus universitário. Eu…, eu não tinha ideia do motivo,
respondeu, e depois de uma pausa indagou: Porque Arno? Ela não conseguia
imaginar mais nada que pudesse perguntar. Não é essa a questão que me preocupa.
A voz dessa vez, tímida e amedrontada, vinha da colega de Emily, historiadora
das religiões, Emma Ericksen. E qual é a questão?, perguntou Emily. A questão
que me preocupa é, se um de nossos colegas foi atacado e morto bem aqui no
campus, quem será o próximo?
Do lado de fora da sala de
reuniões número 26H, D. Burton Gifford entregou a sua maleta a um serviçal e
lançou-lhe um olhar que deixava claro que não queria ver ninguém após a reunião
deles naquela manhã. Ficando de lado enquanto os outros homens saíam da sala e
se afastavam pelo corredor em direcção à saída, ignorou os vários avisos de
Proibido Fumar, tirou um Pall Mall sem filtro de uma cigarreira no bolso da
camisa e acendeu-o. Trabalhara, por dois anos, como conselheiro no comité de
política externa do presidente, desde que o grande homem assumira o cargo. Era
um leal servidor do trabalho do presidente no Médio Oriente, mesmo que o chefe
da nação não concordasse com suas ideias de uma política mais agressiva, mais negociadora,
no trabalho de reconstrução pós-guerra naquela região. Tornara-se um dos mais influentes
conselheiros do chefe de estado, definindo políticas e também assegurando que o
presidente sempre soubesse diferenciar os amigos dos inimigos. A experiência de
Gifford era em negócios, e os negócios não eram nada mais que um mundo de
redes. Gostava de pensar que o presidente estava conectado, ou não conectado,
em virtude da sua sabedoria e influência. E ele não estava totalmente errado.
Era o homem que tinha os contactos; o presidente era apenas a voz moral que
escolhia as ligações correctas.
Sem ser visto, às sombras, um
homem chamado Cole aguardava em pé, imóvel. Seu rosto exibia uma expressão de
ódio pelo imponente e arrogante comerciante de poder, que se encaixava
perfeitamente no estereótipo do sujeito rico, dominador e influente. Inchado
tanto fisicamente quanto no seu ego, Gifford ignorava tudo o que não
considerava relevante para os seus próprios desígnios. Esse era um defeito pelo
qual ele iria pagar hoje. No corredor vazio, Gifford puxou uma longa inspiração,
com o cigarro pendurado nos seus lábios enquanto usava as mãos para alinhar o casaco.
Tirando vantagem dessa distracção e também daquele posicionamento vulnerável,
Cole escolheu esse momento para sair do escritório e avançar no corredor. Num
único e suave movimento, agarrou o corpulento homem pelos pulsos e o forçou a
entrar de novo na sala de reuniões. Que diabos está fazendo?, Gifford perguntou,
espantado, o cigarro caindo da sua boca. Fique quieto e as coisas serão mais
fáceis, respondeu Cole. Manteve Gifford numa chave de braço com a sua mão
esquerda enquanto fechava a porta atrás de si com a direita.
Agora sente-se aí, disse ele,
empurrando Gifford para uma das recém-desocupadas poltronas de couro ao redor
da longa mesa de reuniões. Gifford estava indignado. Aquele homem insubordinado
não apenas o havia tratado com brutalidade, mas também torcido o seu pulso.
Enfurecido, trouxe as mãos até ao peito e as esfregou, tentando aliviar a dor.
já estava resmungando quando começou a virar a sua cadeira na direcção do homem
que o atacara. Vou lhe dizer, meu jovem, não sou um homem que simplesmente
aceita esse tipo de… Ele interrompeu o resmungo no momento em que a poltrona
completou o círculo e seus olhos pousaram nas mãos de Cole. Calmamente dando as
últimas voltas no silenciador para prendê-lo à sua 357 SIG Glock 32, Cole
respondeu sem nem erguer os olhos. Sei exactamente quem é, sr. Gifford. Estou
aqui justamente por ser quem o senhor é. A ira condescendente de Gifford
desapareceu, sendo totalmente substituída por um terror desesperado. Ele não
tirava os olhos da arma. O que…, o que você quer? Este momento, respondeu Cole,
encaixando o silenciador na sua posição travada e soltando a trava de segurança
do gatilho da Glock. Este momento é tudo o que eu quero. Não estou entendendo,
disse rápido um Gifford horrorizado, instintivamente se encostando na poltrona
como se esperasse encontrar algum refúgio contra a ameaça diante dele. O que quer
de mim? É só isso, respondeu Cole. Não quero nada. Isto não é um interrogatório
nem um sequestro. O que é então? Cole finalmente ergueu os olhos e os fixou nos
olhos grandes e aterrorizados de D. Burton Gifford. É o fim. Eu…, não estou
entendendo. Não, respondeu Cole, acho que não está mesmo. A conversa foi
interrompida pelas três balas que ele disparou contra o coração de Gifford, o seu
ombro direito facilmente absorvendo o familiar estampido da pequena arma e a
longa sala ecoando muito suavemente os suaves ruídos abafados pelo silenciador.
Gifford olhou embasbacado para a ténue fumaça que subia do cano da arma que há
pouco descarregara a munição no seu tórax. O sangue começou a escorrer do seu
coração, vazando também das feridas no seu peito e costas; Gifford desabou na
cadeira. Cole ficou observando o homem dar o seu último suspiro, enquanto o corpo
se curvava para a frente, mergulhado na escuridão». In A. M. Dean, A Biblioteca
Perdida, 2012, Editora Prumo, 2012, ISBN 978-857-927-298-1.
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