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«(…)
Lydia sentou-se silenciosa e pôs-se a trabalhar no barro. Depois pousou o instrumento.
Dirigiu-se para o canto da cozinha, ao pé da porta das traseiras. Vi-a inclinar-se
para tirar os sapatos. Depois tirou os
jeans e as cuequinhas. A sua co… estava ali e olhava para mim.
Está bem, meu sacana, disse. Vou mostrar-te como estás enganado.
Tirei
os sapatos, as calças e as cuecas. Ajoelhei-me sobre o chão de linóleo, e
deitei-me em cima dela. Comecei a beijá-la. Entesei-me rapidamente e senti que
a penetrava. Comecei a f…, um, dois, três... Alguém bateu à porta da entrada.
Era um bater de criança de pequenos punhos, enérgicos e persistentes. Lydia
empurrou-me imediatamente. É Lisa! Ela hoje não foi à escola! Estava em...
Lydia pôs-se em pé e começou a vestir-se. Veste-te!, disse-me. Vesti-me o mais rápido
possível. Lydia dirigiu-se para a porta e a sua filha de cinco anos lá estava: mamã!
Mamã! Mamã! Cortei-me no dedo! Eu passeava-me na sala da frente. Lydia sentou
Lisa sobre os seus joelhos. Oooo, deixa a mamã ver. Oooo, deixa a mamã beijar o dedo. A mamã vai pô-lo bom! Mamã, ele dói! Eu olhei para o
golpe. Era quase invisível. Olha, dirigi-me por fim a Lydia, vejo-te amanhã. Desculpa,
respondeu. Eu compreendo. Lisa levantou os olhos para mim, as lágrimas corriam.
A Lisa não deixa que aconteça nada de mau à sua mamã, disse Lydia.
Abri
a porta, fechei-a e encaminhei-me para o meu Mercury Comet de 1962. Por essa
altura eu editava uma pequena revista, The
Laxative Approach. Tinha dois co-editores e havia a sensação de
estarmos a publicar os melhores poetas do nosso tempo. Mas também alguns menos
bons. Um dos editores, Keneth Mulloch (preto), tinha desistido do liceu, media
um metro e oitenta e cinco, e era sustentado pela mãe e pela irmã. O outro
editor era Sammy Levinson (judeu), vinte e sete anos, que vivia com os seus
pais e era sustentado por eles.
Já estava tudo impresso. Agora,
faltava colar e grampear as folhas nas capas. O que você tem que fazer, disse
Sammy, é dar uma Festa da Colagem. Você entra com as bebidas e umas merd…, p’ra
comer e eles fazem o
trabalho. Detesto festa, disse eu. Eu encarrego-me dos convites, falou Sammy. Tudo
bem, disse eu. E convidei Lydia. Na noite da festa, Sammy apareceu com as
folhas já coladas. Ele era do tipo nervoso, tinha um tique de cabeça; não foi
capaz de esperar p’ra ver os seus poemas impressos. Colou sozinho a Abordagem Laxativa e
depois grampeou as capas. Ninguém achou Kenneth Mulloch, provavelmente estava na
prisão ou sendo procurado. O pessoal chegou. Eu não conhecia quase ninguém. Fui
até ao apartamento da senhoria nos fundos do condomínio. Ela me atendeu na
porta. Estou dando uma grande festa, senhora O’Keefe. Gostaria que a senhora e
seu marido viessem. Tem muita cerveja e salgadinhos. Deus do céu, não é possível!
Que foi? Eu vi esse grupo entrando aí. Aquelas barbas e aqueles cabelões e
aquelas roupas remendadas! Pulseiras e colares..., parecem um bando de
comunistas! Como é que aguenta aquela gente? Eu também não aguento aquela
gente, senhora O’Keefe. Só estamos bebendo cerveja e conversando. Nada mais. Fique
de olho neles. Essa corja é capaz até de roubar o encanamento. E fechou a
porta.
Lydia
chegou tarde. Passou pela porta como uma actriz. A primeira coisa que eu
reparei foi o seu chapelão de cowboy com uma pluma de alfazema espetada do
lado. Não falou comigo. Foi logo se sentar ao lado de um rapaz empregado da
livraria, e começou a conversar animadamente com ele. Eu comecei a beber mais e
o meu papo perdeu um pouco de pique e humor. O empregado da livraria era um
tipo bem-apanhado que pretendia virar escritor». In Charles Bukowski, Mulheres,
1978, 1985, Editora dom Quixote, 2001, ISBN 978-972-202-006-0.
Cortesia
de EdomQuixote/JDACT