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Adeus até ao Meu Regresso
«Queria descobrir o teu lenço na multidão e não conseguia.
Parecia um bando de pombas brancas acenando para a guerra.
Que ironia…
Atravessei um oceano para chegar a tanta dor.
Para quê?
Levei saudades em todo o corpo que tenho,
trouxe silêncios da cabeça até aos pés.
O que vivi encheu-me a fala.
Adeus até ao meu regresso.
Partimos sempre meu amor! Partimos sempre!
Acreditei nos dias das flores e punho
e parece-me que os de hoje não têm lembrança.
Que a memória já não conta…
Partimos porque a fome não despega, a terra não germina,
a miséria é mais um à mesa e o sol só nasceu para meia-dúzia.
Atravessamos a esperança num barco e atracamos sem conhecer destino.
Sonho que se encomenda…
Onde estavas a acenar-me?
Adeus até ao meu regresso.
Tento perceber o teu lenço.
Tento perceber o teu lenço no meio de tanta gente.
A tua barriga sendo mãe.
O meu tempo não sendo pai.
A minha lonjura permanente.
Doem-me os dias que não mudam.
As dores actuais iguais às de antigamente.
Tantos que o mar ainda come,
a guerra, sempre a guerra,
colhendo vidas em qualquer parte.
Onde ficaste a desenhar no ar uma pomba branca?
Adeus até ao meu regresso».
Poema de Jorge Serafim, in Os Fabulosos
Tais Quais
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