segunda-feira, 6 de abril de 2020

Os Arquivos Secretos do Vaticano. Sérgio P. Couto. «Um factor importante é entender que, embora o termo heresia seja utilizado até hoje, ele ficou ligado à Idade Média e às acções da actual Congregação para a doutrina da fé, o novo nome…»

Cortesia de wikipedia e jdact

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Lendas e Especulações
O volume traz textos sobre nomes históricos que estão presentes no acervo, com um ou outro documento, como o do pintor e escultor Michelangelo, o do escritor Voltaire, da Rainha Elizabeth I, do Dalai Lama e até o presidente norte-americano Abraham Lincoln. Também traz detalhes sobre figuras polémicas, como os Cavaleiros Templários e o físico e astrónomo Galileu Galilei.
Aborda ainda a tentativa de Henrique VIII de se divorciar de Catarina de Aragão para casar com Ana Bolena e uma carta revoltada do papa Pio XI para Hitler, datada de 1934. Somente por esses exemplos podemos ver o quanto a instituição e seu acervo são polémicos.
Não é para menos que suscitam tantas lendas e teorias de conspiração. E o facto de que, para visitar os quase 85 quilómetros de prateleiras, é necessário passar por um longo processo de aplicação, a fim de ser um dos 1500 estudiosos seleccionados para ter acesso ao local, não ajuda muito a acabar com os boatos. De facto, a melhor chance que uma pessoa comum tem de conhecer o interior dos arquivos e de ler alguns documentos é mesmo pelo livro, uma vez que nem o sítio oficial traz informações tão precisas sobre os documentos lá contidos. Os interessados brasileiros, para terem acesso a alguns destaques de lá, devem procurar o sítio da net em inglês, já que a página em português não possui tantas informações assim. Quanto ao livro belga, quem quiser obter uma cópia precisa de se apressar e correr até à livraria mais próxima que trabalhe com importações e reservar o seu, pois cada edição é limitada a 50 cópias apenas.

A Santa Inquisição (maldita)
Passamos agora a tratar da conturbada história daquela que seria uma das principais fontes de documentos dos Arquivos Secretos do Vaticano: a Santa Inquisição (maldita), o terror que condenou milhares de pessoas à morte em nome da preservação do catolicismo. A imagem que ficou popularizada é a dos inquisidores com longas vestes escuras que apontavam o dedo para o acusado de algum delito, em geral bruxaria ou heresia, considerada mais grave, e que agia muitas vezes ao mesmo tempo como juiz, júri e executor. A primeira coisa que vem à mente das pessoas é saber como uma instituição de carácter religioso acumulou tanto poder a ponto de desafiar até mesmo os reis, numa época em que aqueles governantes se achavam com direito divino e absoluto de governar. Para tanto, é necessário entender o papel da Inquisição (maldita) desde a sua concepção. Segundo o historiador Gilberto Coltrim, a Santa Inquisição (maldita) foi criada para combater o sincretismo, definido como fusão de diferentes cultos ou doutrinas religiosas, com reinterpretação de seus elementos, entre certos grupos religiosos que se valiam da adoração de plantas e animais e praticavam mancias, adivinhações por meio de algo designado pelo precedente. Essa era sua função original, já que a Inquisição (maldita), como a conhecemos, é derivada da versão medieval, mas, na verdade, existiram instituições anteriores dedicadas a tais combates.
Um factor importante é entender que, embora o termo heresia seja utilizado até hoje, ele ficou ligado à Idade Média e às acções da actual Congregação para a doutrina da fé, o novo nome sob o qual a Santa Inquisição (maldita) sobrevive até hoje. A cada dia que passa, os doutores da igreja reveem os actos dos seus antepassados e admitem que a prática inquisitorial estava errada ao punir com violência e morte de indivíduos hereges, como foi declarado pelo papa João Paulo II no artigo Perdoai as nossas ofensas, na revista Veja Especial, de 6 de Abril de 2005. O que não se pode deixar de admitir é o facto de que a Inquisição (maldita) foi e é considerada ainda como uma das instituições humanas que mais feriu os direitos humanos, principalmente o da livre escolha religiosa.

As heresias
A palavra heresia vem do latim haerĕsis, que, por sua vez, deriva de um termo grego que significa basicamente escolha ou opção. Trata-se, portanto, de uma linha de pensamento diferente ou contrária a um credo já estabelecido por meios ortodoxos». In Sérgio P. Couto, Os Arquivos Secretos do Vaticano, Da Inquisição à renúncia de Bento XVI, Editora Gutenberg, 2013, ISBN 978-856-538-385-1.

Cortesia de EGutenberg/JDACT