segunda-feira, 11 de maio de 2020

A Mensagem dos Construtores de Catedrais. Christian Jacq. «Se o teu inimigo tem fome, alimenta-o, se tem sede, sacia-o, estarás a juntar brasas sobre a sua cabeça, e Jeová to retribuirá»

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«(…) Confusão e separação das línguas são provações a que estamos sujeitos todos os dias, não só entre nós próprios e os outros mas também de nós para connosco próprios. Mas, no entanto, o desespero não está em causa; é ao construirmos a nossa existência, ao sermos construtores da nossa catedral, que se torna possível reencontrar o dom das línguas, e comunicar com tudo o que existe. Num fresco de Saint-Savin-sur-Gartempe, Cristo, provavelmente concebido como o Mestre de Obras da Jerusalém celeste, contempla uma comunidade de construtores a trabalhar. Constroem uma torre, uma torre de Babel que não se desmorona.

Um Fogo Sobre a Cabeça
Se o teu inimigo tem fome, alimenta-o,
Se tem sede, sacia-o,
Estarás a juntar brasas sobre a sua cabeça,
E Jeová to retribuirá.

Este provérbio do rei Salomão dá conta de um acto ritual conhecido da tradição egípcia. Dizia-se que uma personagem simbólica de nome Khamwese segurava um bastão numa mão e tinha um braseiro sobre a cabeça. Esta tão curiosa acção tinha um sentido muito preciso. Pôr um fogo sobre a cabeça de outrem tem por objectivo fazer nascer nele a humildade. Não a fraqueza e o abandono de todo o orgulho de criar mas a autêntica humildade, que é o conhecimento da posição do homem como intermediário entre céu e terra e como participante das duas naturezas.
Um outro rito praticado pelos antigos egípcios evoca na perfeição esta ideia. Quando o defunto era posto no sarcófago, ou o iniciado em certas cerimónias rituais, trava-se apenas de uma morte e não d’a morte. Para que o indivíduo pudesse ultrapassar
vitoriosamente as provações do além, era-lhe colocada uma chama sob a cabeça. A cabeça, que simbolizava o corpo inteiro, análoga ao naos de um templo, recebia assim a luz necessária para iluminar o caminho do Desconhecido.

Os Dedos Do Escriba
As palavras do deus, são a denominação egípcia dos hieróglifos, palavra formada pelos gregos e que significava sinais sagrados. Os hieróglifos, portadores de tamanha energia, não podiam ser confiados a qualquer um. Para aprender a manejá-los, era preciso passar pela Casa da Vida, onde os ensinamentos esotéricos guiavam os escribas na via da Sabedoria.
Quando os dedos do escriba gravavam as palavras do deus, ele fazia irradiar a energia de que os homens necessitam para viver. A Bíblia não esqueceu o tema dos dedos do escritor sagrado que inspira a Sabedoria divina ao ditar-lhe a sua obra. O que deve estar ligado à simbólica da mão e dos dedos do próprio Criador. Pensemos, por exemplo, na mão de Deus saindo das nuvens, na mão possante que, na catedral de Puy, suporta uma coluna.

O Cobre que Cura
Segundo a tradição egípcia, o corpo dos deuses é formado por diversos metais preciosos. Deve ser esta uma das origens simbólicas da alquimia medieval. Falava-se também na existência de um cobre muito especial, de origem celeste, que exercia um poder purificador e curativo sobre as doenças». In Christian Jacq, A Mensagem dos Construtores de Catedrais, 1980, Instituto Piaget, 1999, ISBN 972-771-129-4.

Cortesia IPiaget/JDACT