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A
Invasão, 1096-1100
Os
franj estão chegando
«(…) O emir Tchaka tinha para
isso um plano muito coerente. Assim, fora-se instalar num porto perto de
Esmirna, sobre o mar Egeu, onde, com a ajuda de um armador grego, constituíra
uma verdadeira frota de guerra compreendendo bergantins leves, naus a remo,
dromons, birremes ou trirremes, ao todo cerca de uma centena de embarcações.
Numa primeira etapa, ele ocupara diversas ilhas, principalmente Rodes, Quios e
Samos, e estendera a sua autoridade sobre o conjunto da costa do Egeu. Assim
formando um império marítimo, proclamara-se basileu, organizando o seu palácio
de Esmirna segundo o modelo da corte imperial, e lançara a sua frota sobre
Constantinopla. Enormes esforços foram necessários de Alexis para conseguir rechaçar
o ataque e destruir parte das naus turcas.
Sem ver-se desencorajado, o pai
da futura sultana retomara com determinação a construção dos seus navios de
guerra. Era perto do final do ano de 1092, momento em que Kilij Arslan voltava
do exilio, e Tchaka pensara que o jovem filho de Suleiman seria um excelente
aliado contra os rum. Propusera-lhe então a mão da sua
filha. Mas os cálculos do jovem sultão eram bem diferentes dos de seu sogro. A
conquista de Constantinopla parecia-lhe um plano absurdo. Em contrapartida,
nenhum dos que o cercavam ignorava que ele buscava a eliminação dos emires
turcos que tentavam constituir um domínio na Ásia Menor, isto é, em primeiro
lugar Danishmend e o demasiadamente ambicioso Tchaka. Portanto o sultão não
hesitara, convidara seu sogro para um banquete e, tendo-o embebedado,
apunhalara-o com as suas próprias mãos. Tchaka tinha um filho que assumiu a
sucessão, mas que não possuía nem a inteligência nem a ambição de seu pai. O
irmão da sultana contentou-se em gerir seu emirado marinho até aquele dia do
ano 1097, em que a frota dos rum
chegou inopinadamente ao largo de Esmirna, trazendo a bordo um mensageiro
inesperado: a sua própria irmã.
Esta demorou para compreender as
razões da solicitude do imperador para com ela, mas enquanto e comboiada para a
cidade onde passou a sua infância, Esmirna, tudo fica claro. Ela é encarregada
de explicar ao seu irmão que Alexis tomou Niceia, que Kilij Arslan foi vencido,
e que um poderoso exército de rum e
franj vai em breve
atacar Esmirna com a ajuda de uma imensa frota. Para salvar sua vida, o filho
de Tchaka e convidado a conduzir sua irmã para perto do seu esposo, em algum
lugar na Anatólia.
Não tendo sido recusada a
proposta, o emirado de Esmirna deixa de existir. No dia seguinte à queda de
Niceia, toda a costa do mar Egeu, todas as ilhas, e a parte ocidental da Ásia
Menor escapam, portanto, das mãos dos turcos. E os rum, ajudados pelos seus auxiliares francos, parecem
decididos a ir mais longe.
Mas, no seu refúgio nas
montanhas, Kilij Arslan não depôs as armas. Passada a surpresa dos primeiros
dias, o sultão prepara activamente sua resposta. Ele pôs-se a recrutar tropas,
aliciar voluntarios e proclamar o j
i had, anota
Ibn al-Qalanissi. O cronista de Damasco acrescenta que Kilij Arslan pediu a
todos os turcos que o ajudassem, e numerosos deles responderam ao seu chamamento.
De fcato, o primeiro objectivo do sultão e selar uma aliança com Danishmend.
Uma simples trégua não basta mais. É imperativo agora que as forcas turcas da Ásia
Menor estejam unidas, como se fossem um só exército». In Amin Maalouf, As Cruzadas
vistas pelos Árabes, 1983, Colecção História Narrativa, nº 38, Edições 70,
Ensaio, 2016, ISBN 978-972-441-756-1.
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