sexta-feira, 19 de junho de 2020

O Símbolo Perdido. Dan Brown. «Então o silêncio foi total. Firmando as mãos, o iniciado levou o crânio à boca e sentiu os lábios tocarem o osso seco»

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«(…) Na época, o iniciado não sentira medo. Eles jamais saberão o meu verdadeiro motivo para estar aqui.
Nessa noite, porém, uma atmosfera de ameaçadora solenidade pairava na Sala do Templo, levando-o a rememorar todos os avisos severos recebidos durante a jornada, ameaças de punições terríveis caso ele algum dia revelasse os antigos segredos que estava prestes a conhecer: garganta cortada de orelha a orelha..., língua arrancada pela raiz..., entranhas removidas e queimadas..., espalhadas aos quatro ventos..., coração retirado do peito e jogado aos animais selvagens... Irmão, disse o mestre de olhos cinzentos, pousando a mão esquerda no ombro do iniciado. Preste o juramento final. Tomando coragem para dar o último passo da sua jornada, o iniciado endireitou o corpo e voltou sua atenção para o crânio que segurava nas mãos. À fraca luz das velas, o vinho cor de carmim parecia quase negro. Um silêncio sepulcral reinava na sala, e ele podia sentir os olhos das testemunhas cravados nele, à espera que prestasse o juramento final e se unisse àquele grupo de elite. Hoje à noite, pensou ele, entre estas paredes, está acontecendo algo que nunca aconteceu antes na história desta irmandade. Nem sequer uma vez em séculos. Ele sabia que aquilo seria a faísca..., e que lhe daria um poder inimaginável. Cheio de energia, respirou fundo e repetiu as mesmas palavras pronunciadas antes dele por incontáveis homens espalhados por todo o mundo. Que este vinho que agora bebo se transforme em veneno mortal para mim..., caso algum dia eu descumpra o meu juramento de forma consciente ou voluntária.
Suas palavras ecoaram no espaço oco. Então o silêncio foi total. Firmando as mãos, o iniciado levou o crânio à boca e sentiu os lábios tocarem o osso seco. Fechou os olhos e o inclinou, bebendo o vinho em goles demorados, generosos. Depois de sorver tudo até a última gota, abaixou o crânio. Por um instante, pensou sentir os pulmões se contraírem, e seu coração começou a bater descompassado. Meu Deus, eles sabem! Então, com a mesma rapidez que havia surgido, a sensação passou. Um agradável calor começou a percorrer o seu corpo. O iniciado soltou o ar, sorrindo consigo mesmo enquanto observava o homem de olhos cinzentos que não desconfiava de nada e que acabara de cometer o erro de deixá-lo entrar para o círculo mais secreto da sua irmandade. Você logo perderá tudo o que lhe é mais precioso.

O elevador Otis que subia a coluna sul da Torre Eiffel estava lotado de turistas. No seu interior abarrotado, o austero executivo de fato bem passado baixou os olhos para o menino ao seu lado. Você está pálido, filho. Devia ter ficado lá em baixo. Estou bem..., respondeu o garoto, esforçando-se para controlar a própria ansiedade. Vou descer no próximo andar. Não consigo respirar. O homem chegou mais perto. Pensei que a esta altura já tivesse superado isso. Acariciou com afecto a face do filho. O menino estava com vergonha por desapontar o pai, mas mal conseguia escutar qualquer coisa, tamanho o zumbido nos seus ouvidos. Não consigo respirar. Preciso sair de dentro desta caixa!
O ascensorista estava dizendo alguma coisa tranquilizadora sobre os pistões articulados e a estrutura de ferro forjado do elevador. Muito abaixo deles, as ruas de Paris se estendiam em todas as direcções.
Estamos quase chegando, disse o menino para si mesmo, esticando o pescoço e erguendo os olhos para a plataforma de desembarque. Aguente firme. À medida que o elevador se aproximava num ângulo acentuado do deque de observação, o poço se estreitava, e os seus enormes tirantes se contraíam formando um túnel apertado, vertical. Pai, eu acho que não...
De repente, um estalo abrupto ecoou acima dele. O elevador deu um tranco e pendeu para um dos lados, desequilibrado. Cabos esgarçados começaram a chicotear em volta do compartimento, agitando-se feito cobras. O menino estendeu a mão para o pai. Pai! Durante um segundo aterrorizante, seus olhares se cruzaram. Então o fundo do elevador se soltou.
Robert Langdon teve um sobressalto, despertando assustado daquele sonho diurno semiconsciente. Estava sentado sozinho na sua macia poltrona de couro na imensa cabine de um jacto corporativo Falcon 2000EX que atravessava aos solavancos uma área de turbulência. Ao fundo, ouvia-se o zumbido constante dos dois motores Pratt & Whitney. Sr. Langdon? O alto-falante chiou acima dele. Estamos na fase final de aproximação». In Dan Brown, O Símbolo Perdido, 2009, Bertrand Editora, 2009, ISBN 978-972-252-014-0.

Cortesia de BertrandE/JDACT