jdact
«(…)
Na época, o iniciado não sentira medo. Eles jamais saberão o meu verdadeiro
motivo para estar aqui.
Nessa
noite, porém, uma atmosfera de ameaçadora solenidade pairava na Sala do Templo,
levando-o a rememorar todos os avisos severos recebidos durante a jornada,
ameaças de punições terríveis caso ele algum dia revelasse os antigos segredos
que estava prestes a conhecer: garganta cortada de orelha a orelha..., língua
arrancada pela raiz..., entranhas removidas e queimadas..., espalhadas aos
quatro ventos..., coração retirado do peito e jogado aos animais selvagens... Irmão,
disse o mestre de olhos cinzentos, pousando a mão esquerda no ombro do
iniciado. Preste o juramento final. Tomando coragem para dar o último passo da
sua jornada, o iniciado endireitou o corpo e voltou sua atenção para o crânio
que segurava nas mãos. À fraca luz das velas, o vinho cor de carmim parecia
quase negro. Um silêncio sepulcral reinava na sala, e ele podia sentir os olhos
das testemunhas cravados nele, à espera que prestasse o juramento final e se
unisse àquele grupo de elite. Hoje à noite, pensou ele, entre estas paredes,
está acontecendo algo que nunca aconteceu antes na história desta irmandade.
Nem sequer uma vez em séculos. Ele sabia que aquilo seria a faísca..., e que
lhe daria um poder inimaginável. Cheio de energia, respirou fundo e repetiu as
mesmas palavras pronunciadas antes dele por incontáveis homens espalhados por
todo o mundo. Que este vinho que agora bebo se transforme em veneno mortal para
mim..., caso algum dia eu descumpra o meu juramento de forma consciente ou
voluntária.
Suas
palavras ecoaram no espaço oco. Então o silêncio foi total. Firmando as mãos, o
iniciado levou o crânio à boca e sentiu os lábios tocarem o osso seco. Fechou
os olhos e o inclinou, bebendo o vinho em goles demorados, generosos. Depois de
sorver tudo até a última gota, abaixou o crânio. Por um instante, pensou sentir
os pulmões se contraírem, e seu coração começou a bater descompassado. Meu
Deus, eles sabem! Então, com a mesma rapidez que havia surgido, a sensação
passou. Um agradável calor começou a percorrer o seu corpo. O iniciado soltou o
ar, sorrindo consigo mesmo enquanto observava o homem de olhos cinzentos que
não desconfiava de nada e que acabara de cometer o erro de deixá-lo entrar para
o círculo mais secreto da sua irmandade. Você logo perderá tudo o que lhe é
mais precioso.
O elevador
Otis que subia a coluna sul da Torre Eiffel estava lotado de turistas. No seu
interior abarrotado, o austero executivo de fato bem passado baixou os olhos
para o menino ao seu lado. Você está pálido, filho. Devia ter ficado lá em baixo.
Estou bem..., respondeu o garoto, esforçando-se para controlar a própria
ansiedade. Vou descer no próximo andar. Não consigo respirar. O homem chegou
mais perto. Pensei que a esta altura já tivesse superado isso. Acariciou com
afecto a face do filho. O menino estava com vergonha por desapontar o pai, mas
mal conseguia escutar qualquer coisa, tamanho o zumbido nos seus ouvidos. Não
consigo respirar. Preciso sair de dentro desta caixa!
O
ascensorista estava dizendo alguma coisa tranquilizadora sobre os pistões
articulados e a estrutura de ferro forjado do elevador. Muito abaixo deles, as
ruas de Paris se estendiam em todas as direcções.
Estamos
quase chegando, disse o menino para si mesmo, esticando o pescoço e erguendo os
olhos para a plataforma de desembarque. Aguente firme. À medida que o elevador
se aproximava num ângulo acentuado do deque de observação, o poço se
estreitava, e os seus enormes tirantes se contraíam formando um túnel apertado,
vertical. Pai, eu acho que não...
De
repente, um estalo abrupto ecoou acima dele. O elevador deu um tranco e pendeu
para um dos lados, desequilibrado. Cabos esgarçados começaram a chicotear em
volta do compartimento, agitando-se feito cobras. O menino estendeu a mão para
o pai. Pai! Durante um segundo aterrorizante, seus olhares se cruzaram. Então o
fundo do elevador se soltou.
Robert
Langdon teve um sobressalto, despertando assustado daquele sonho diurno
semiconsciente. Estava sentado sozinho na sua macia poltrona de couro na imensa
cabine de um jacto corporativo Falcon 2000EX que atravessava aos solavancos uma
área de turbulência. Ao fundo, ouvia-se o zumbido constante dos dois motores
Pratt & Whitney. Sr. Langdon? O alto-falante chiou acima dele. Estamos na
fase final de aproximação». In Dan Brown, O Símbolo Perdido, 2009,
Bertrand Editora, 2009, ISBN 978-972-252-014-0.
Cortesia
de BertrandE/JDACT