sexta-feira, 19 de junho de 2020

O Símbolo Perdido. Dan Brown. «Meu grupo de leitura leu o seu livro sobre o sagrado feminino e a Igreja! Ele provocou um escândalo delicioso! O senhor gosta mesmo de soltar a raposa…»

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«(…) Langdon se endireitou no assento e tornou a guardar as notas da palestra dentro da bolsa de viagem de couro. Estava no meio de uma revisão da simbologia maçónica quando havia adormecido. Desconfiava que o sonho sobre o pai já falecido tivesse sido causado pelo inesperado convite, recebido naquela manhã, do seu antigo mentor, Peter Solomon. O outro homem que nunca vou querer decepcionar. O filantropo, historiador e cientista de 58 anos havia-se tornado o protector de Langdon quase 30 anos antes, preenchendo sob muitos aspectos o vazio deixado pela morte do pai. Apesar da influente dinastia familiar e da imensa fortuna de Solomon, Langdon encontrou humildade e calor humano nos seus suaves olhos cinzentos. Do lado de fora da janela, o sol havia se posto, mas Langdon ainda podia distinguir a silhueta esguia do maior obelisco do mundo, erguendo-se acima do horizonte como a coluna de um antigo relógio de sol. O obelisco de quase 170 metros de altura revestido de mármore marcava o centro daquela nação. A partir dele, a meticulosa geometria de ruas e monumentos se espalhava por todas as direcções. Mesmo vista de cima, Washington exalava um poder quase místico.
Langdon adorava aquela cidade e, quando o jacto tocou o solo, sentiu uma animação crescente em relação ao que o dia lhe reservava. A aeronave deslizou até um terminal privado em algum lugar no meio da vastidão do Aeroporto Internacional Dulles e parou. Langdon juntou suas coisas, agradeceu aos pilotos e emergiu do interior luxuoso do jacto para a escada dobrável. O ar frio de Janeiro dava uma sensação de liberdade. Respire, Robert, pensou ele, apreciando os grandes espaços abertos. Uma manta de bruma branca cobria a pista de pouso e, ao descer para o asfalto enevoado, Langdon teve a sensação de estar pisando num pântano. Olá! Olá!, chamou uma voz melodiosa com sotaque britânico. Professor Langdon? Langdon ergueu os olhos e viu uma mulher de meia-idade, de crachá e com uma prancheta na mão, caminhando apressada na sua direcção, acenando alegremente enquanto ele se aproximava. Cabelos louros cacheados despontavam de baixo de um estiloso gorro de lã. Bem-vindo a Washington, professor! Langdon sorriu. Obrigado. Meu nome é Pam, do serviço de atendimento a passageiros. A mulher falava com uma exuberância quase perturbadora. Se quiser acompanhar-me, seu carro está aguardando. Langdon a seguiu pela pista em direcção ao terminal exclusivo, cercado por reluzentes jactos privados. Um ponto de táxi para os ricos e famosos.
Sem querer constrangê-lo, professor, disse a mulher, um pouco encabulada, o senhor é o Robert Landgon que escreve livros sobre símbolos e religião, não é? Langdon hesitou, mas assentiu com a cabeça. Bem que eu achei!, disse ela, radiante. Meu grupo de leitura leu o seu livro sobre o sagrado feminino e a Igreja! Ele provocou um escândalo delicioso! O senhor gosta mesmo de soltar a raposa no galinheiro! Langdon sorriu. Criar escândalo não foi bem a minha intenção. A mulher pareceu perceber que Langdon não estava disposto a conversar sobre o próprio trabalho. Desculpe. Olhe eu aqui falando. Sei que o senhor provavelmente está cansado de ser reconhecido..., mas a culpa é toda sua. Com ar brincalhão, ela indicou as roupas que ele usava. O seu uniforme o entregou. Meu uniforme? Langdon baixou os olhos para examinar as próprias roupas. Estava usando um casaco de tweed Harris, uma calça cáqui e sapatos fechados de couro de cabra..., seu traje padrão para aulas, palestras, sessões de fotos e eventos sociais. A mulher riu. Essas golas rulês que o senhor usa são muito fora de moda. O senhor ficaria bem melhor de gravata! De jeito nenhum, pensou Langdon. Pequenas forcas». In Dan Brown, O Símbolo Perdido, 2009, Bertrand Editora, 2009, ISBN 978-972-252-014-0.

Cortesia de BertrandE/JDACT