sexta-feira, 5 de junho de 2020

Em Nome D’El Rei. Luís Barriga. «Quem..., e como se pode pertencer à Ordem?, questionou o príncipe. Pertencer à Ordem é por si só uma marca distintiva, pois as condições impostas para ingressar são rigorosas…»

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Início de uma vida épica
Lisboa. Maio de 1459
«(…) Em tempos idos, existiram uns Cavaleiros denominados Templários. Eram destemidos defensores da Terra Santa, e durante muitos anos mantiveram os sarracenos fora do lugar sagrado. Na cidade de Jerusalém, não é verdade, senhor meu tio!? Dom João mostrava-se atento e já conhecedor. É verdade! Mais tarde, intrigas políticas e acusações maldosas levaram o Papa a ordenar a extinção da Ordem do Templários, mas em Portugal foram considerados inocentes das acusações que lhes faziam. Esses cavaleiros envergavam uma dalmática com uma cruz vermelha muito parecida com aquela, apontando para a bandeira da Ordem de Cristo. É daí, que vem a origem dos Cavaleiros de Cristo e por isso a parecença dos símbolos. É também por essa razão que as velas das nossas naus a ostentam. Essa Ordem, sob minha tutela, está à cabeça dos destinos das descobertas. A face do infante irradiava esperança e esse mesmo entusiasmo aflorava no rosto do príncipe João.
Quem..., e como se pode pertencer à Ordem?, questionou o príncipe. Pertencer à Ordem é por si só uma marca distintiva, pois as condições impostas para ingressar são rigorosas, implicando que muito poucos têm as qualidades necessárias para entrar. Participar nos feitos de guerra é uma dessas condições, para ganhar honra. Muitos são os membros da Ordem de Cristo que têm participado nas conquistas no Norte de África e nas descobertas... João! Está na hora da vossa lição, o mestre aguarda-vos na sala de estudo. Dona Isabel chamava com doçura o seu pequeno príncipe para os deveres escolares. Esperai! Henrique impediu o petiz de lhe saltar dos joelhos. O vosso mestre pode esperar! Quando se trata de apreenderdes qual será o futuro da nação, sob a tutela do vindoiro Dom João, o segundo..., deixando no ar uma premonição, ao mesmo tempo que mãe e filho aguardaram para o ouvir. Esta bandeira da Ordem dos Cavaleiros de Cristo de ora em diante será hasteada nas sete partidas do mundo, para honra e glória do reino. Posto isto, o infante Henrique colocou o rapaz no chão, imaginado o futuro brilhante que ele teria pela frente
As despedidas foram breves, de seu hábito pouco afeito a grandes exteriorizações. O infante viajou para Lagos, para onde há muito se mudara de armas e bagagens, a fim de pôr em marcha os planos que sempre tivera em mente. Agora, engendrando já as empresas seguintes, na posse de mor conhecimento, julgava poder arriscar-se a maiores aventuras e descobertas. No entanto, sensivelmente um ano e meio depois de ter em mãos a preciosa informação de que carecia, morreria em Sagres, a uma quinta-feira, 13 de Novembro de 1460. Logo foi transportado para Lagos e as cerimónias fúnebres decorrem na igreja de Santa Maria de Lagos, onde foi sepultado. Ainda no decorrer do impulso por ele fomentado, os navegadores descobriram as restantes ilhas do arquipélago de Cabo Verde, no ano de 1462. Aos poucos, a morte do infante arrastou a decadência das suas ambições, o seu impulso foi esmorecendo e as descobertas foram sendo passadas para segundo plano. El-rei Afonso V estava mais empenhado nas conquistas do Norte de África, que davam nome aos nobres pelos feitos realizados nas batalhas, e, atendendo aos meios escassos, teve de fazer opções.

Lisboa, centro do Mundo
Lisboa, Julho de 1471
Lopo Barriga, sempre que estava na cidade, convivia com os outros jovens militares e adaptava-se ao bulício citadino. Um dos seus camaradas tornou-se seu companheiro de aventuras, de seu nome Nuno Fernandes Ataíde, filho de Álvaro Ataíde, alcaide-mor e senhor donatário de Alvor, no reino do Algarve d'aquém-mar. Os dois e, muitas vezes, aliciando o príncipe e o seu amigo Afonso Albuquerque, que não se faziam rogados, iniciaram a descoberta das animações que a capital lhes podia oferecer, nas ruelas de fama duvidosa por eles preferidas, em escapadelas furtivas. Quando os súbditos reconheciam o príncipe, desfaziam-se em infindáveis salamaleques, e eles aproveitavam para sair tão rapidamente como entraram, para evitar que a Corte fosse informada». In Luís Barriga, Em Nome D’El Rey, Clube do Autor, Lisboa, ISBN 978-989-724-448-3.

Cortesia de CdoAutor/JDACT