Cortesia
de wikipedia e jdact
«A História dos Treze é a trilogia composta pelos romances
Ferragus, A duquesa de Langeais e A menina dos olhos de ouro, textos
completamente autónomos de Balzac, com histórias e personagens distintos. Em
comum há a existência de uma sociedade secreta, Os Treze Devoradores, espécie
de seita composta por treze amigos. O objectivo da fraternidade é todos se
ajudarem mútua e secretamente, colocando a amizade acima de qualquer preceito
moral e até mesmo da lei. Este tipo de sociedade, quase um ideal romântico, ocupava
o imaginário do público francês, e as histórias envolvendo seitas secretas eram
muito populares na época. Honoré de Balzac, muito mais do que seguir uma moda,
criou três obras-primas que obtiveram enorme sucesso ao serem publicadas na
década de 1830 como folhetim nos jornais parisienses».
«Houve sob o Império,
em Paris, treze homens igualmente tocados pelos mesmos sentimentos, dotados de
energia assaz grande para serem fiéis à mesma ideia, suficientemente probos
para se não traírem uns aos outros, mesmo quando seus interesses se
encontrassem em oposição, profundamente políticos para dissimularem os sagrados
laços que os uniam, bastante fortes para se colocarem acima de todas as leis, audaciosos
a ponto de tudo empreenderem e felizes de modo a obterem êxito, quase sempre,
em seus desígnios; corriam os maiores perigos e sabiam calar as suas derrotas;
inacessíveis ao medo, não sabiam o que fosse tremer nem diante do rei nem à
frente do carrasco nem perante a inocência. Haviam-se associado tais como eram,
sem levar em conta preconceitos sociais; criminosos, sem dúvida; mas
assinalavam-se por algumas das qualidades que fazem os grandes homens e só se
recrutavam entre pessoas de escol. Finalmente, para que nada faltasse ao
sombrio e misterioso encanto desta história, permaneceram esses treze homens para
sempre desconhecidos, embora tenham todos realizado as mais bizarras ideias
sugeridas à imaginação pelo fantástico poderio falsamente atribuído aos Manfredos,
aos Faustos, aos Melmoths; e todos, no presente, vencidos, pelo menos,
dispersados, voltando tranquilamente ao jugo das leis civis, tal como Morgan, o
Aquiles dos piratas, que, depois de ter sido o terror dos mares, se fez colono pacífico
e desfrutou, sem remorsos, ao calor da lareira doméstica, os milhões acumulados
no sangue, sob o rubro clarão dos incêndios.
da sra. Radcliffe. A
estranha permissão para contar a seu modo algumas das aventuras desses homens,
embora respeitando certas conveniências, só recentemente lhe foi dada por um desses
heróis anónimos aos quais toda a sociedade esteve secretamente submetida, e no
qual acredita ter surpreendido um vago desejo de celebridade. Tal homem, jovem
ainda na aparência, de cabelos louros e olhos azuis, cuja voz suave e clara
parecia denunciar uma alma feminina, era pálido de rosto e misterioso de
maneiras, conversava com amabilidade, pretendia não ter mais que quarenta anos
e podia pertencer às mais altas classes sociais. O nome que assumira parecia
suposto; na sociedade, sua pessoa era desconhecida. Quem era? Ninguém o sabia. Confiando
ao autor as coisas extraordinárias que lhe revelou, talvez quisesse o
desconhecido vê-las de qualquer modo impressas e gozar as emoções que
despertariam no coração do povo, sentimento análogo ao que agitava Macpherson ao
ver o nome de Ossian, sua
criatura, inscrever-se em todas as línguas. Era essa, decerto, para o advogado escocês,
uma das sensações mais vivas, ou, pelo menos, das mais raras que os homens se
possam permitir. Não é isso o incógnito do génio? Escrever o Itinerário de Paris a Jerusalém é
tomar parte na glória humana de um século, mas dotar o seu país de um Homero não
será usurpar o poder de Deus?
O autor conhece demais as leis da narrativa para ignorar os compromissos
a que o obriga este curto prefácio, mas conhece bastante a História dos Treze para estar certo de jamais se
encontrar aquém do interesse que deve inspirar tal programa. Foram-lhe
confiados dramas gotejantes de sangue, comédias cheias de terror, romances em
que rolam cabeças
secretamente cortadas, e, se algum dos leitores não estivesse já farto dos
horrores que vêm sendo servidos ao público há algum tempo, poderia revelar-lhe
aqui frias atrocidades, surpreendentes tragédias de família, por pouco que lhe
fosse testemunhado o desejo de conhecê-las; mas escolheu, de preferência, as
aventuras mais suaves, aquelas em que cenas puras se sucedem a temporais de
paixão e nas quais a mulher aparece radiosa de virtude e de beleza. Para honra
dos Treze, encontram-se dessas aventuras na sua história, a qual talvez tenha
um dia a glória de ser comparada à dos flibusteiros, essa gente à parte, tão
curiosamente enérgica e tão atraente, apesar dos seus crimes». In Honoré
de Balzac, A História dos Treze, 1833-1835, Edição LPM, 2008, ISBN
978-852-541-756-5.
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