Cortesia
de wikipedia e jdact
«(…) Eles entram por uma rua de
cascalhos ladeada por mudas recém-plantadas. Nem posso dizer-lhe quanto tempo
demorou para conseguir deixar esse lugar pronto, diz Clive. Quase estrangulei o
meu empreiteiro quando ele me disse que não ficaria pronto antes do Memorial
Day. Só conseguiram terminar a piscina na semana passada. Dá para imaginar? Eu
a comprei há mais de um ano. Algumas pessoas não têm a menor noção de respeito.
Eles estacionam em frente à casa. O lugar é moderno e branco. Há vários carros
estacionados logo à frente. Um Range Rover e dois Mercedes. Ela nunca viu um relvado
tão verde em toda a sua vida! Levando a mochila de Claire, Clive a conduz pela
porta até uma sala ampla, escura e com o pé-direito alto. Uma lareira domina
uma das paredes, e uma pintura moderna cobre a outra. Ela reconhece o artista.
Esteve numa das suas exposições naquela primavera. Gosta dela?, pergunta. Não é
exactamente uma das minhas paixões. Não sei quase nada sobre arte. Mas meu
decorador disse que eu precisava de uma pintura enorme nessa parede, e eu
decidi comprá-la.
O tecto deve estar a uns dez
metros de altura. Quase não há mobília, apenas um longo sofá de couro branco e
várias caixas de papelão empilhadas no canto.
O restante deve chegar na semana
que vem, diz ele. Basicamente, estamos acampando agora. Vamos lá, deixe-me
mostrar a casa. Ele coloca a mochila dela no chão e a conduz pela casa,
mostrando-lhe a sala de jantar, a cozinha, a sala de televisão e uma sala de
jogos completa com mesas de bilhar, pebolim, pingue-pongue e uma máquina de
fliperama. Em cada sala uma televisão grande de tela plana. É a típica casa de
um homem, comenta, sabendo o que ele quer ouvir. Nem se incomodou em mobiliar a
sua casa nova, mas já está com todos os brinquedos instalados. Ele ri,
sentindo-se lisonjeado. Vou-lhe mostrar o quarto onde vai ficar. Eles voltam
pelo caminho por onde vieram e ele leva a mala dela até um enorme quarto de casal,
onde a cama está desarrumada, sapatos jogados pelo chão, roupas colocadas sobre
o encosto de uma cadeira e um notebook sobre a escrivaninha, com o navegador
aberto no site de
notícias da Bloomberg. Revistas e
telefones móveis estão espalhados por cima da mesinha de cabeceira. Sobre a cómoda
há uma foto de Clive posando com esquis e outra com uma mulher jovem, no que
parece ser um barco à vela. Sem olhar de perto, Claire percebe que ela está com
os seios à mostra.
Desculpe, está meio bagunçado.
Não consegui arrumar o lugar. Espero que não se importe. Como se não esperasse
que ela respondesse, ele vira-se e beija-a. Estou muito feliz por ter vindo. Eu
também, responde, retribuindo o beijo. Ela precisa ir à casa de banho. A viagem
de comboio foi longa, e ela sofre os efeitos do calor e do desconforto. Ele
leva a mão até ao seio dela, e ela deixa. Gosta da maneira como ele a toca e do
cheiro que ele tem. Couro e areia. Do facto de ele ser britânico. É como ser
violentada por um duque regente do século XVIII. Ela sente a mão entrar por
baixo da sua camisa e os mamilos se enrijecerem. Não se quer afastar, e decide
que pode esperar. Não vai demorar. Ele nem se preocupou em tirar a sua camisa
ou a dela. A cueca ficou junto de um dos seus calcanhares, e ela está sentada
na cama enquanto ele lava o rosto no lavatório.
Acabámos de inaugurar o quarto,
diz, ainda lá dentro. Insatisfeita, ela olha para as suas pernas nuas e os
pelos púbicos negros, sentindo-se um pouco tola. Ele volta para o quarto. Bem,
que tal irmos encontrar os outros? Só um momento. Ela vai até à casa de banho,
levando a sua roupa íntima e o short. A princípio, não parecia haver qualquer
motivo para vesti-los. A casa de banho é grande e revestida em mármore. As
toalhas, decadentemente macias. Há duas pias, um bidé, um chuveiro com vários
esguichos de aço brilhante, que provavelmente custou o equivalente a um mês do
seu salário. Há outro aparelho de televisão escondido atrás do espelho. Ela
joga água no rosto e pensa que seria melhor ter trazido a sua própria necessaire
com objectos de uso pessoal. Não trouxe a sua escova de cabelo nem o batom». In
Charles Dubow, Indiscreto, 2013, Companhia Editora Nacional, 2013, ISBN
978-850-401-867-7.
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