Cortesia
de wikipedia e jdact
9H35
«(…) Talvez fosse um convite para
alguma festa ou evento, embora o estilo do envelope sugerisse um nível de
sofisticação bem mais alto do que o das festas que ela costumava frequentar. Ela
passou habilidosamente o dedo mindinho pela aba do envelope para abri-lo, e uma
única folha de papel, dobrada ao meio, caiu no seu colo. Desdobrou o papel. Se
as primeiras impressões definissem o cenário, pensou Emily, aquele bilhete
pretendia criar uma cena extravagante. O papel era fino, obviamente caro, de
uma cor creme bem clara e, se não estivesse enganada, tinha um leve perfume de
cedro. O que viu no topo da página fez seu estômago contorcer-se. Em relevo,
destacando-se levemente do tom do papel, havia um cabeçalho.
Do gabinete do
professor Arno Holmstrand,
BA, MA, D.Phil,
PhD, OBE
Arno Holmstrand, com todos
aqueles títulos académicos e honrarias, o homem assassinado na noite anterior.
O eminente professor. O professor morto. O que vinha a seguir capturou toda sua
atenção.
Prezada Emily , começava o
bilhete, escrito na mesma caligrafia elegante, com a mesma tinta marrom do
envelope. Minha morte com certeza precedeu esta carta.
Nova
York. 10h35
O secretário pegou no telefone
antes que o primeiro toque se completasse. Alô! Feito. Exactamente de acordo
com suas instruções. A voz do outro lado da linha falava num tom directo e
frio. O Guardião está morto? Eu mesmo cuidei disso. Ontem à noite. A polícia
encontrou-o hoje. O secretário recostou-se na poltrona, tomado por uma sensação
de satisfação e poder. Um nobre objectivo fora alcançado e o futuro do seu
projecto havia sido preservado. Poucos homens na história tinham tentado o que
eles tentavam agora. Menos ainda eram os que tinham atingido os objectivos
agora alcançados por eles. Mas eles teriam sucesso e, como mostrava o progresso
da semana anterior, não havia quem pudesse se interpor no seu caminho. O secretário
passou os dedos pelos cabelos grisalhos. Ele estava nos esperando, disse o
outro homem. Aquilo era de se esperar. A eliminação do Assistente na semana
anterior fora amplamente noticiada. Não tinha sido possível evitar. Não se
assassinava um Chefe de Patentes de Washington sem que a comunicação social
tomasse conhecimento. Além disso, não era objectivo do Conselho ocultar a
eliminação. Esses assassinatos seriam dados como assassinatos para a maioria
das pessoas, mas entre aquelas que eram seus alvos, eles seriam interpretados
como recados. Advertências.
Isso é irrelevante, respondeu o secretário,
contanto que tenha feito o seu trabalho. Além da fonte, com quem vamos lidar em
breve, ele era o último homem que tinha visto a lista. O vazamento da lista
fora imperdoável. Tudo o que eles lutaram para construir tinha sido colocado em
risco por algo tão banal quanto uma lista de nomes. Uma lista que incluía nomes
que ninguém poderia saber. Daquele sigilo, daquele anonimato, dependia todo o
plano deles. E mesmo assim, de alguma forma, a lista caíra em mãos erradas. A única
reacção possível era agir e erradicar os que tinham posto os olhos nela». In A.
M. Dean, A Biblioteca Perdida, 2012, Editora Prumo, 2012, ISBN
978-857-927-298-1.
Cortesia de EPrumo/JDACT