Cortesia
de wikipedia e jdact
«(…) Anne riu, e ela continuou: está
bem, vai ver. Espere até se ver envolvida com alguns dos Romeus desta cidade.
Aposto que volta para Lawrenceville pelo primeiro comboio. E não se esqueça de
me apanhar no caminho e de me levar junto. Ela jamais voltaria a Lawrenceville.
Não tinha apenas deixado Lawrenceville. Tinha fugido de lá. Fugido de um
possível casamento com algum sólido rapaz de Lawrenceville e da sólida e monótona
vida de Lawrenceville. Da mesma monotonia em que sua mãe vivia. E a mãe de sua
mãe. Da mesmíssima casa em que viveram gerações e gerações de uma boa família
da Nova Inglaterra, todas elas sufocadas por emoções disfarçadas sob uma
armadura de aço chamada boas maneiras. (Anne, uma senhora nunca ri alto. Anne,
uma senhora nunca chora em publico. Mas não estou em público, mãe. Estou
chorando aqui, na cozinha. Uma senhora só chora quando esta sozinha. Já não é
uma criança, Anne, e sua tia Amy está presente. Agora, vá para o seu quarto).
De alguma forma, Lawrenceville a
perseguira até Radcliffe. Lá havia garotas que riam, que choravam, que faziam
mexericos, que viviam, enfim, os altos e baixos da vida. Ela nunca fora, porém,
convidada a fazer parte daquele mundo. Era como se estivesse usando um emblema
que dizia Conserve-se a distância. Tipo frio e reservado da Nova Inglaterra.
Refugiara-se, então, cada vez
mais, nos livros e mesmo ali encontrava uma norma que se repetia: parecia que,
virtualmente, todos os escritores que admirava haviam deixado as suas cidades natais.
Hemingway alternava a Europa com Cuba e Bimini. O pobre e confuso, mas
talentoso, Fitzgerald também vivera no estrangeiro. Até o ruivo, com cara de
estúpido, Sinclair Lewis, encontrara romance e excitamento na Europa. Fugiria
de Lawrenceville. Simplesmente. Anne decidiu-se a isso no seu último ano no
colégio e informou a mãe e a tia Amy durante as férias de Páscoa. Mãe, tia Amy…,
quando eu sair da escola vou para Nova York. Péssimo lugar para as férias. Pretendo
viver lá. Já discutiu isso com Willie Henderson? Não. Porque é que deveria
discutir? Bem, têm andado juntos desde que tinha dezasseis anos. Naturalmente,
toda a gente imagina… Exactamente. Em Lawrenceville tudo é imaginação suposto. Anne,
está levantando a voz, disse-lhe a mais calmamente. Willie Henderson é um óptimo
rapaz. E fui colega de escola de seus pais. Mas eu não o amo, mãe.
Nenhum homem pode ser amado,
replicou tia Amy. Você não amou o pai, mãe? Não era uma pergunta, era quase uma
acusação. É claro que o amei. Sua voz tornou-se áspera. O que sua tia quer
dizer é que…, bem, os homens são diferentes. Eles não pensam e não reagem como
as mulheres. Veja o exemplo do seu pai. Um homem extremamente difícil de
compreender. Era impulsivo e apreciava uma bebida. Se ele se tivesse casado com
qualquer outra pessoa, que não eu, teria certamente tido um mau fim». In Jacqueline
Susann, O Vale das Bonecas, 1967, Edições Contraponto, 2010,
ISBN 978-989-666-078-9.
Cortesia de EContraponto/JDACT