O
Código Secreto de Leonardo da Vinci
«(…)
Ouvimos dizer, muitas vezes, que
Leonardo era um cristão piedoso cujas pinturas religiosas reflectiam a
profundidade da sua fé. Como vimos até agora, pelo menos uma delas contém
imagens altamente dúbias, em termos de ortodoxia cristã, e a nossa
investigação, como veremos mais tarde, revela que nada podia estar mais longe
da verdade do que a ideia de que Leonardo era um verdadeiro crente, isto é, um
crente em qualquer forma aceite ou aceitável do cristianismo. Nesta altura, as
estranhas e anómalas características de uma única das suas obras parecem
indicar que ele tentava revelar-nos outro estrato do significado daquela
familiar cena bíblica, de outro mundo de fé, para além do desenho
reconhecido da imagem fixada naquele mural do século XV próximo de Milão.
Seja
qual for o significado dessas inclusões heterodoxas, elas estão, e não é de
mais acentuá-lo, em total desacordo com o cristianismo ortodoxo. Este facto não
é novidade para os actuais materialistas/racionalistas porque, para eles,
Leonardo foi o primeiro verdadeiro cientista, um homem que não tinha tempo para
qualquer forma de superstições ou de religião, que era a verdadeira antítese do
místico ou do ocultista. Mas também eles foram incapazes de ver o que estava
claramente exposto aos seus olhos. Pintar A Última Ceia sem uma quantidade
significativa de vinho é o mesmo que pintar o momento crítico de uma coroação
sem a coroa: ou não atinge o objectivo ou atinge outro diferente, a ponto de o
identificar como abertamente herético, alguém que possuía crenças religiosas,
mas crenças que estavam em desacordo, talvez mesmo em guerra, com as da
ortodoxia cristã. E descobrimos que outras obras de Leonardo sublinham as suas obsessões
heréticas específicas, através de imagens cuidadosamente aplicadas e
consistentes, o que não aconteceria se o artista fosse um ateu, simplesmente
interessado em ganhar a vida. Estas inclusões e símbolos desnecessários são
mais, muito mais, do que a resposta satírica do céptico a este tipo de
incumbências, não são o mesmo que pintar um nariz vermelho a São Pedro, por
exemplo. O que estamos a ver na A Última Ceia, e noutras das suas obras,
é o código secreto de Leonardo da Vinci, que julgamos ter uma
importância espantosa para o mundo actual.
Pode
discutir-se que tudo em que Leonardo acreditou ou não acreditou era apenas o
ponto fraco de um homem, para mais um homem notavelmente excêntrico, cuja
história estava cheia de paradoxos. Podia ter sido um solitário, mas era também
o animador de um grupo; desprezava as cartomantes, mas as suas contas registam
dinheiro pago a astrólogos; era vegetariano e afectuoso amigo dos animais, mas
o seu afecto raramente se estendia à Humanidade; dissecava obsessivamente
cadáveres e assistia às execuções com um olhar de anatomista; era um profundo
pensador e um mestre de enigmas, de artes mágicas e de mistificação. Dado este
complexo panorama, não seria de estranhar que as suas ideias pessoais sobre
religião e filosofia fossem invulgares, mesmo subtis. Apenas por esta razão,
podia ser tentador considerar as suas crenças heréticas como irrelevantes para
o mundo actual. Enquanto, de modo geral, se admite que Leonardo tinha um enorme
talento, a moderna tendência para um historicismo arrogante procura
desvalorizar as suas realizações. Afinal, quando ele estava no apogeu, até a
técnica de impressão era uma novidade. O que podia ter um inventor isolado
desses tempos, tão primitivos, para oferecer a um mundo que é continuamente
informado, navegando na Net, e que pode, numa questão de segundos, comunicar
por telefone ou por fax com pessoas de continentes que ainda não tinham sido
descobertos na sua época? Há duas respostas para esta pergunta. A primeira é que Leonardo não era, para usar um
paradoxo, um génio vulgar.
Dado
que muitas pessoas sabem que ele desenhou máquinas voadoras e primitivos
tanques militares, algumas das suas invenções eram tão inverosímeis para a sua
época que algumas pessoas mais excêntricas sugeriram mesmo que ele devia ter
tido visões do futuro. Os seus desenhos de uma bicicleta, por exemplo, só se
tornaram conhecidos depois de 1960. Ao contrário das penosamente prolongadas
fases de ensaio do aperfeiçoamento da primeira bicicleta vitoriana, a bicicleta
de Da Vinci tinha duas rodas do mesmo tamanho, uma corrente e um mecanismo de
engrenagem. Mas, ainda mais fascinante que o verdadeiro desenho, é saber, em
primeiro lugar, o que o teria levado a inventar uma bicicleta. O homem sempre
desejou voar como as aves, mas ter uma motivação para pedalar ao longo das
estradas imperfeitas é completamente mistificador (e, ao contrário de voar, não
figura em qualquer fábula clássica). Leonardo também previu o telefone, entre muitas outras futuristas
pretensões à fama.
Se
Leonardo foi um génio ainda maior do que os livros de história admitem, resta
saber que possível conhecimento podia ter possuído, e que causaria impacto, de
forma significativa e prolongada, cinco séculos após a sua morte. Embora se possa
discutir que os ensinamentos de um rabi do século I teriam menos relevância
para o nosso tempo e lugar, também é verdade que algumas ideias são universais
e eternas e que a verdade, se puder ser encontrada ou definida, nunca é
essencialmente enfraquecida pela passagem dos séculos». In Lynn Picknett e Clive Prince,
A Grande Heresia, O Segredo da Identidade de Cristo, Editora Beca, 2000, ISBN
978-858-725-617-1.
Cortesia de EBeca/JDACT