Cortesia
de national geographic e jdact
Os primeiros séculos da computação a numeração
posicional
«Calcular e computar são sinónimos,
embora, por influência do inglês a língua dominante na área da tecnologia, a palavra
computação, na sua acepção actual, tenha acabado por se associar exclusivamente
à informática. No entanto, desde há milhares de anos que o homem tem vindo a inventar
métodos de computação, ou seja, de cálculo. O processo desenrolou-se lentamente
a partir de um passo inicial: o desenvolvimento da numeração. Como tantas outras
manifestações culturais, a numeração e o cálculo apareceram em lugares distantes,
sem qualquer ligação, expandindo-se depois em força numa rede de influências mútuas.
A sua história percorre a Mesopotâmia, o Egipto, a Grécia, Roma, a Índia e outras
regiões com métodos de cálculo próprios, e prolonga-se até ao aparecimento da numeração posicional, isto
é, a numeração árabe, que constituiu uma verdadeira revolução coperniana.
As origens da numeração
Embora muito antiga, a numeração
não é universal nem uniforme; nem todos os povos a desenvolveram do mesmo modo,
e há tribos, como os pirahãs da Amazónia, que a desconhecem. As provas mais
remotas do uso dos números são os ossos com marcas encontrados em escavações
arqueológicas. O mais antigo que foi descoberto até à data tem 35.000 anos de
idade; trata-se de um osso de Papio (primata vulgarmente designado
por babuíno) encontrado na cordilheira de Lebombo, na Suazilândia (África), no decurso
de uma escavação realizada em 1973. Possui 29 marcas, e pensa-se que deverá ter
sido utilizado como contador das fases lunares, embora também talvez possa ter sido
usado para seguir o ciclo menstrual. O seu aspecto é semelhante ao dos bastões que
os bosquímanos da Namíbia ainda hoje utilizam. Outro achado importante é um osso
de lobo descoberto em 1937 em Dolní Vestonice, na regiào checa da Morávia, que apresenta
55 marcas agrupadas de 5 em 5 e uma marca adicional depois da marca 25; pertence
à época aurignacense e tem cerca de 30.000 anos de idade. Nas suas proximidades
foi ainda encontrada a cabeça de uma Vénus de marfim. O segundo exemplar de
grande relevo é mais recente; trata-se do chamado osso de Ishango, que foi
encontrado no Congo em 1960 e tem cerca de 20.000 anos de idade.
Existem duas teorias sobre a origem
da numeração, ambas relacionadas com a questão da precedência do aparecimento dos
cardinais (1,2,3...) em relação aos ordinais (primeiro, segundo, terceiro...).
A teoria que goza de maior consenso baseia-se no argumento da necessidade. Tudo
teria começado devido à necessidade de contar objectos; por isso, teriam sido criados
primeiro os números cardinais e só mais tarde os ordinais». In Torra
Vicenç, O Mundo é Matemático, Do Ábaco à Revolução Digital, 2010, RBA, National
Geographic & Yellow Border, 2019, ISBN 978-841-329-200-7.
Cortesia de NGeographic & YBorder/JDACT