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Lanhoso. Dezembro de 1130
«(…) Esta convicta declaração
teve o condão de amansar Afonso Henriques, que esqueceu por momentos o ciúme e
se revoltou contra o desejo paternal do seu inimigo. - Não o deixarei raptar
minhas irmãs! Desagradado, anunciou uma imediata decisão: Sancha e Teresa iriam
para Guimarães e viveriam na sua corte! Elvira manteve-se calada, esperando
instruções quanto ao seu destino individual, mas Afonso Henriques parecia
ter-se esquecido dela e já planeava o futuro. Uma ideia começara a germinar no
seu espírito, iria construir um novo castelo, para mostrar aos galegos e aos
leoneses que as suas pretensões eram intensas. Edificando uma fortificação em
Celmes, o local escolhido, garantia que seu primo Afonso VII não avançaria sobre
aqueles disputados domínios.
Será Gonçalo Sousa o alcaide
desse novo castelo portucalense!
Ao escutar tal nome, Elvira
murmurou: vejo que continuais ciumento...
Anos antes, Gonçalo Sousa tentara
seduzi-la, como fazia com todas as mulheres que conhecia, mas ela não lhe dera
troco. Porém, Afonso Henriques tinha receio de que aquele divertido amigo lhe pudesse
ganhar ascendente nos afectos da normanda. Ao nomeá-lo para Celmes, afastava
essa ameaça.
Veremos se o Trava me ataca!, exclamou
o príncipe. A normanda de formas voluptuosas riu-se e picou-o: a mim é que ele
me atacou... Aborrecido, Afonso Henriques interrogou-a com ligeira aspereza: haveis
tido vontade de vos dar ao Trava? Então, Elvira levantou-se do banco e
aproximou-se dele, ficando de pé à sua frente, alta e poderosa. Sois o meu
único amigo, meu príncipe. Além disso, estamos no Advento. Para os cristãos,
não é tempo dessas coisas. Afonso Henriques levantou-se também e pela primeira
vez nasceu-lhe um sorriso no rosto. Eram quase os dois da mesma altura, dois imponentes
exemplares da espécie humana. Sois normanda, os vossos deuses são menos austeros.
Elvira Gualter ficou de repente muito séria.
Tive um sonho.
Vira
o príncipe de Portugal montado num cavalo alado, negro como breu. As estrelas
dançavam à volta dele, mil inimigos cercavam-no, mas do céu caiu um raio que tocou
na lança do filho do conde Henrique, que com ela venceria uma tremenda batalha».
In
Domingos Amaral, Assim Nasceu Portugal, A Vitória do Imperador, Casa das
Letras, LeYa, 2016, ISBN 978-989-741-461.
Cortesia
de CdasLetras/LeYa/JDACT