Cortesia
de wikipedia e jdact
«Érica
agarrou o volante enquanto o veículo de tracção nas quatro rodas subia a
estrada de terra, desviando de grandes pedras e passando por buracos. Sentado
ao seu lado, pálido e ansioso, estava seu assistente Luke, um estudante graduado
pela UCSB que trabalhava na tese de seu doutorado. Na casa dos vinte anos, cabelos
louros e compridos presos num rabo-de-cavalo, Luke usava uma camiseta que dizia
Arqueólogos Escavam Mulheres Antigas.
Ouvi dizer que está uma confusão,
dra. Tyler, disse ele, enquanto Érica manobrava o carro, subindo a estrada que
serpenteava perigosamente. Parece que a piscina desapareceu dentro do chão. Assim, sem mais nem menos,
prosseguiu, estalando os dedos. Disseram no noticiário que o buraco do
afundamento se estendeu por todo o comprimento da mesa, e sob as casas dos
astros de cinema, e daquele cantor de rock que esteve no noticiário, e daquele
jogador de basebol que fez todas aquelas jogadas no ano passado, e de um famoso
cirurgião plástico. Sob as casas deles.
Então você sabe o que isso significa.
Érica não sabia o que isso significava.
Sua mente estava voltada para uma única coisa: a descoberta espantosa que fora
feita. Na hora do desastre ela estava na região norte trabalhando num projecto
para o estado. O terremoto, ocorrido há dois dias e medindo 7.4, fora sentido
tão ao norte quanto San Luis Obispo, tão ao sul quanto San Diego e tão a leste
quanto Phoenix, sobressaltando milhões de habitantes do sul da Califórnia. Fora
o maior tremor de que se tem lembrança e o que pode ter provocado, um dia depois,
o desaparecimento súbito e espantoso de uma piscina de trinta metros,
trampolim, tobogã e tudo o mais.
Um segundo evento espantoso se
seguira quase imediatamente: quando a piscina afundou, a terra a recobriu,
expondo ossos humanos e a abertura de uma caverna que não se conhecia. Esta
pode ser a descoberta do século!, declarou Luke, tirando os olhos da estrada
por um instante para olhar para a chefe. Ainda estava escuro e não havia luz ao
longo do caminho montanhoso. Érica acendeu a luz interior do carro, iluminando
os cabelos castanhos e brilhantes, levemente ondulados, que roçavam seus
ombros, e uma tez bronzeada pelos anos de trabalho sob o sol. A dra. Érica
Tyler, com quem Luke trabalhara nos últimos seis meses, estava na casa dos
trinta, e, embora não a achasse linda, Luke a achava atraente de um modo que
era sentido mais nas entranhas de um homem do que nos olhos. Uma descoberta e
tanto para algum arqueólogo sortudo, acrescentou ele. Porque você acha que nós
violamos todas as normas de trânsito para chegar até aqui?, disse ela com um
sorriso, depois de olhá-lo de relance, e voltou sua atenção para a estrada a
tempo de se desviar de uma lebre assustada.
Eles chegaram ao topo da mesa de
onde as luzes de Malibu podiam ser vistas à distância. O resto da vista, Los
Angeles a leste e o oceano Pacífico ao sul, estava bloqueado por árvores, picos
mais altos e mansões de milionários. Érica manobrou o carro pelo
congestionamento de carros de bombeiro, carros de polícia, caminhões
municipais, vans de
reportagens e a fileira de carros estacionados ao longo da fita amarela que
cercava o sítio. Curiosos se sentavam nos capôs e capotas dos veículos para
observar, beber cerveja e falar sobre desastres e seus significados, ou talvez apenas
para ser entretidos por algum tempo, apesar dos avisos, transmitidos aos gritos
pelos megafones, de que a área era perigosa. Ouvi dizer que toda essa mesa era
um tipo de retiro comandado por uma espírita maluca na década de 20, disse Luke
quando o carro parou. As pessoas costumavam subir até aqui para falar com os
fantasmas.
Érica lembrou ter visto cine-jornais
mudos de irmã Sarah, uma das personalidades mais pitorescas de Los Angeles, que
costumava fazer sessões espíritas para a realeza de Hollywood, como Rodolfo Valentino
e Charlie Chaplin. Sarah fizera sessões para multidões em teatros e auditórios
e, quando os seus seguidores totalizaram centenas de milhares, veio para estas
montanhas e construiu um retiro chamado de A Igreja dos Espíritos. Sabe como
este lugar era chamado originalmente?, prosseguiu Luke, enquanto desafivelavam
os cintos de segurança. Quer dizer, antes que ele fosse da médium? Antigamente, disse ele, a palavra
antigamente evocando pergaminhos com lacres de cera e homens duelando ao
amanhecer. Cahon de Fantasmas, entoou ele, provando as palavras empoeiradas em
sua língua. Cánion mal-assombrado. Parece assustador!, concluiu, estremecendo.
Luke, disse Érica, rindo, se quiser
ser um arqueólogo quando crescer, não vai poder ter medo de fantasmas. Ela
mesma vivia diariamente com fantasmas e assombrações, espíritos e duendes. Eles
povoavam seus sonhos e as suas escavações arqueológicas, e, embora os fantasmas
pudessem iludi-la, confundi-la, provocá-la e frustrá-la, nunca a assustaram». In Barbara
Wood, Solo Sagrado, Editora Record, 2002, ISBN 978-850-106-119-5.
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