Cortesia
de wikipedia e jdact
Na
Corte do rei Artur
«(…) Como o escudeiro disse
ao rei as novas da pedra. E eles disto falando, eis que vem
um escudeiro que disse ao rei: Senhor, eu vos trago as mais maravilhosas novas
de que ouvistes falar. - E que novas são?, disse o rei, dizei-no-las. Neste
vosso paço, aportou agora uma pedra de mármore, na qual está metida uma espada,
e sobre esta pedra, no ar, está uma bainha. E eu vos digo que vi a pedra nadar
sobre a água, como se fosse madeira. E o rei, que o teve por chufa, disse-lhe
se podia ver esta pedra. Então disse o escudeiro: já estão lá muitos cavaleiros
da vossa companhia para ver aquela maravilha. E o rei, assim que isto ouviu,
foi logo para lá com a sua companhia de homens bons. E Lancelote, apenas soube
o que era, logo foi para lá atrás deles; e Heitor e Persival, que já haviam
visto, queriam ver, entre tão grande companhia como lá estava reunida, se
haveria alguém que desse cabo agora daquela aventura. Quando o rei chegou à
ribeira e viu a pedra e a espada que nela estava metida, pelo encantamento de Merlim,
assim como o conto já referiu, e uma bainha que estava perto dela no meio do
ar, e o letreiro que Merlim fizera, ficou todo espantado.
E, amigos, disse ele, novas vos
direi. Ora, sabei que por esta espada será conhecido o melhor cavaleiro do
mundo, porque esta é a prova pela qual se há de saber; e nenhum, se não for o
melhor cavaleiro do mundo, poderá sacar a espada desta pedra.
Como o
rei disse a Lancelote que tirasse a
espada da pedra e Lancelote não quis. Quando os
cavaleiros ouviram isto, afastaram-se quase todos os que queriam tentar
sacá-la. E o rei disse a Lancelote: dom Lancelote, tirai esta espada, porque
ela é vossa, por testemunho de quantos aqui estão que vos têm pelo melhor
cavaleiro do mundo. E quando isto ouviu, ficou muito envergonhado e respondeu: Senhor,
estes me têm pelo melhor cavaleiro do mundo; certamente, não sou eu que esta
espada devo ter, porque muito melhor cavaleiro do que eu a terá e pesa-me que
não sou tão bom como vós o cuidais. Disto que Lancelote disse, tiveram muitos
pesar, .e mais os da linhagem de rei Bam, que o tinham pelo melhor cavaleiro do
mundo. O rei, que percebeu que havia algum pesar, disse: provar vos convém.
Porque assim não sois pois culpado se, porventura, fracassardes. Senhor, disse
ele, apesar de vossa graça, não me chegarei aí, porque, assim Deus me valha,
não valho eu tanto que deva pôr a mão em arma de tal homem como aquele será que
esta espada há-de trazer.
Como Galvão provou a espada por ordem do rei. Então disse o
rei a Galvão: sobrinho, pois Lancelote receou a espada, provai-a vós e veremos
o que acontecerá. Eu, senhor, disse ele, prova-la-ei para cumprir vossa ordem,
mas sei que nada é que eu possa conseguir, porque bem sabeis vós e quantos aqui
estão que, quando dom Lancelote deixa alguma coisa por míngua de cavalaria, eu
nada nisto conseguirei, pois ele é muito melhor cavaleiro do que eu. E ainda
assim, disse o rei, prova-la-eis, porque assim me aprazo. Então aproximou-se
Galvão e pegou a espada pelo punho e puxou-a o mais que pôde, mas nunca tanto que
a pudesse sacar da pedra, e deixou-a então e disse ao rei: Senhor, agora podeis
buscar quem a prove, porque eu não porei mais a mão, pois bem vejo que Deus não
ma quer outorgar. Dom Galvão, disse Lancelote, o rei fez seu prazer, pois que
vo-la mandou provar, mas nesta aventura não deveis entrar, porque não pode
demorar muito que não hajais mal por isso, pois recebereis o maior golpe ou
ferimento pelo qual tereis pavor da morte ou morrereis. Amigo, disse ele, não
pude mais, porque se aqui cuidasse morrer, não deixaria de cumprir a ordem do rei.
Pois feito está, disse o rei, não é culpa, apenas míngua. E então perguntou a
todos os outros: amigos, há aqui alguém que queira provar esta espada? E
calaram-se todos. E quando o rei viu que não faziam mais questão, disse: agora
vamos almoçar, porque já é hora, e Deus nos dê quem a esta aventura dê cabo,
pois certamente muito me agradaria que chegasse logo». In Manuscrito do Século XII,
Heitor Magale, A Demanda do Santo Graal, TA Queiroz, Editora da Universidade de
S. Paulo, 1988, CDD 398 46, 1989, ISBN 858-500-874-1.
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