Cortesia
de wikipedia e jdact
«Nobres homens de bem, jamais ouseis
profanar este túmulo maldito. Aqui estão sepultados demónios viciados no mal e
aqui devem permanecer eternamente. Que o Santo Deus e o Santo Papa vos
protejam. Uma caravela portuguesa naufragada com mais de 500 anos é descoberta
no litoral brasileiro. Dentro dela, uma estranha caixa de prata lacrada esconde
um segredo. Apesar do aviso grafado, com a recomendação de não abri-la, a
equipa de mergulhadores que a descobriu decide seguir em frente, e encontra
sete cadáveres. Esses corpos misteriosos e cadavéricos são levados para estudos
e tudo parece estar sob controle até ao despertar do primeiro deles. Em Os
Sete, André Vianco actualiza o mito dos Vampiros, apresentando ao leitor seres
poderosos, cada um com uma característica única, mas todos com natureza monstruosa
e sanguinária. O resultado é um livro envolvente, repleto de acção e
reviravoltas, que em pouco tempo ocupou seu merecido lugar entre os mais
importantes livros de terror e fantasia brasileiros». In
Sinopse
«Quando
eles encontraram aquele navio naufragado, decidiram manter segredo. Outros
mergulhadores do vilarejo conheciam o navio, mas o julgavam um amontoado de
madeira inútil e podre, sem lhe dar o devido valor. Pensavam que aquela velha
caravela não passasse de um reles pesqueiro antigo. Entretanto, Tiago
desconfiara do formato daquele amontoado de madeiras. Seu olhar perscrutador,
somado a uma intuição inquietante, empurrava-o para um exame mais minucioso.
Nos mergulhos seguintes, com a ajuda dos seus companheiros, conseguiu chegar à
primeira certeza: aquela embarcação não era um pesqueiro naufragado, pelo menos
não um deste século. O mistério alegrou o grupo. Se as expectativas se
confirmassem, poderiam se deparar com um tesouro perdido, trancado dentro da
velha nave. Precisamos fotografar aquele barco, disse Tiago, tirando os óculos
de mergulho. Conhece o Peta? Aquele do bar. Sei. Ele tem câmera fotográfica, câmera
de vídeo, tudo para reportagens submarinas. Ele trabalha com isso. Será que ele
cobra caro para nos alugar esse equipamento, César? Sei lá. O sujeito é chato,
vai querer vir junto. Não, não pode. Se mais gente ficar sabendo... logo vai se
armar uma correria em cima do barco velho. César ajudou Tiago a retirar o
cilindro das costas, depois foi sua vez de livrar-se do equipamento de
mergulho.
Não
sei como nunca ninguém se interessou em investigar melhor esse navio. Eu acho
que deve ter uma porção de coisas valiosas lá dentro. Tiago deu partida no
motor da lancha. César tinha razão. Por outro lado, aquela parte da costa era
pouco movimentada. Não tinha nenhum atractivo turístico. E eles só mergulhavam
por ali porque era o único lugar que tinham para ir. Raramente sobrava dinheiro
para longas excursões. O máximo que podiam fazer era ficar ciscando as pedras
das suas próprias praias.
Desde
cedo Tiago e César se engraçaram com a prática do mergulho. César nascera ali,
em Amarração. Já Tiago chegara à cidade com 12 anos. Seu pai fora destacado
para Amarração e teve de trazer toda a família. A mãe, que sempre morara na
capital, Porto Alegre, achou a ideia bastante agradável. Já os filhos, nem
tanto. Os três estavam começando a curtir a adolescência, e Porto Alegre
parecia bem mais interessante do que a pacata cidade litoral. Fazer o quê!
Logo
os três se adaptaram. Tiago era o mais novo. Apesar de Tadeu ser seu irmão gémeo,
Tiago fora o último a nascer. Sabrina era três anos mais velha. Havia dois anos
a irmã estava casada e fazia cinco morava noutro Estado. De vez em quando se
falavam por telefone, mas raramente se visitavam. Da família restavam apenas
eles dois. O pai fora o delegado titular de Amarração até morrer por complicações
coronárias quando Tiago tinha 16 anos. O irmão gémeo morreu dois anos depois,
afogado naquela praia. A partir daí a família desmantelou-se.
A
mãe morreu de desgosto, definhando mês a mês. Desde a morte de Tadeu, a felicidade
sumira-lhe do rosto. Nunca mais voltara a ser a mesma. Tiago também se abalara
na ocasião da morte do irmão, mas vendo o estado de sua mãe ficara bastante
assustado. Lutava contra a saudade e o desespero, tentando manter a família
ainda viva. A irmã fora para São Paulo quando ele tinha 20 anos, ficando
sozinho em Amarração. Os tios pagaram a faculdade de Sabrina, deixando-a viver nas
suas casas até se casar aos 23, indo morar em Osasco, cidade vizinha a São
Paulo. Tiago visitou-a duas vezes, no Natal de 96 e depois em 98, quando seus
sobrinhos gémeos nasceram. E aquela fora a última vez em que estiveram frente a
frente. Os tios tentaram convencê-lo a migrar para São Paulo também, porém ele
não queria deixar seu passado para trás. Sua terra era ali. Não via extraordinárias
chances de enriquecimento à frente e também já tinha quase tudo de que
precisava. O que tentava a todo custo era lutar contra o tédio que abatia
Amarração, tornando-a, invariavelmente, uma cidade apática. Se Tadeu ainda
estivesse vivo, certamente estariam se divertindo a valer. Se Tadeu estivesse
vivo, os dois estariam completando 25 anos na semana seguinte.
A
lancha já havia coberto os dois quilómetros que os separavam da costa. César apagou
o motor, deixando a embarcação aproximar-se deslizante, sem barulho. Recolheu a
hélice, erguendo o motor. O mar estava bastante calmo, sem muitas ondas.
Aproximaram-se da praia com bastante tranquilidade. Pularam da lancha e a
arrastaram para a areia. Agarraram as cordas e, com muito esforço, arrastaram-na
para longe da água». In André Vianco, Os Sete, 1999, Editora
Aleph, 2016, ISBN 978-857-657-339-5.
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