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Aos
Amigos
I
«Terno Paz, bom Maneschi, Aurélio
caro,
Alvares extremoso, Almeida humano,
Ferrão prestante, valedor Montano,
Moniz, que extrais teu nome ao
Tempo avaro:
Freire, Viana, Blancheville, ó
raro,
Moral tesoiro, que possui Elmano;
Sócio de Flora; e tu de som Tebano
Ó Cisne! E tu, Cardoso, em letras
claro:
Monumento honrador da Humanidade,
(Se o Fado me sumir da Morte no
Ermo)
Grato vos deixa cordial Saudade.
Ireis nos versos meus do Globo ao
termo,
Por serdes, com benéfica Piedade,
Núncios,
Núncios de um Deus ao Vate enfermo».
II
«Se o Grande, o que nos Orbes
diamantinos
Tem curvos a seus pés dos Reis os
Fados,
Novamente me der ver amimados
De modesta Ventura os meus
Destinos;
Se acordarem na Lira os sons
Divinos,
Que dormem (já da Gloria não
lembrados)
Ao Côro etéreo, cândidos, e
alados,
Honrar com Ele hum Deus ireis,
meus hinos.
Mas, da humana Carreira inda no
meio,
Se a débil flor vital sentir
murchada
Por Lei que envolta na existência
veio;
Co'a mente pelos Céus toda
espraiada,
Direi, de Eternidade ufano, e
cheio:
A
Deus, ó Mundo! ó Natureza! ó Nada!»
III
«Pela voz do Trovão Corisco
intenso
Clama, que á Natureza impera hum
Ente,
Que cinge do áureo Dia o véu
ridente,
Que veste d'atra Noite o manto
denso.
Pasmar na Imensidade é crer o
Imenso:
Tudo em nós o requer, o adora, o
sente.
Provam-te olhos, ouvidos, peito,
e mente?
Numen! Eu oiço, eu olho, eu
sinto, eu penso.
Tua Ideia, ó Grão Ser, ó Ser
Divino,
Me he vida, se me dão mortal
desmaio
Males que sofro, e males que
imagino.
Nunca Impiedade em mim fez bruto
ensaio:
Sempre (até das Paixões no
desatino)
Tua
Clemência amei, temi teu Raio».
[…]
In
Manuel Maria B. du Bocage, Improvisos de Bocage, Lisboa, Impressão Régia, 1805,
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