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de wikipedia e jdact
Galaaz
é armado cavaleiro
«(…) Então tomou suas armas e
cavalgou; e, quando queria sair do mosteiro, viu, na frente de uma câmara, Boorz
e Leonel armados, que também queriam cavalgar; e assim que eles o viram,
dirigiram-se para ele e ele lhes disse: que ventura vos trouxe aqui? Cuidava
que estivésseis na corte. Senhor, disseram eles, viemos por pavor de vossa
morte, porque não partiríeis senão por alguma aflição muito grande. Por isso
viemos atrás de vós até aqui e nos ocultamos o melhor que pudemos. Quando soubemos
que queríeis voltar à corte, armamo-nos para voltar convosco, e não por outra
razão. Então cavalgai e vamo-nos, disse ele. Então cavalgaram e, indo pelo
caminho, perguntou Boorz: senhor, quem é este cavaleiro que ora fizestes? Logo
o sabereis, disse Lancelote. Deixai por isso agora a pergunta. Também disse
Leonel: quem quer que seja, é o mais formoso que alguma vez vi na sua idade e,
se for tão bom cavaleiro como é formoso, muito bem lhe fará Nosso Senhor.
Na
Corte do rei Artur
Como
Lancelote e Boorz e Leonel chegaram à corte. Assim falando,
chegaram a Camalote, e sabei que quantos na corte estavam ficaram com isso
muito alegres, porque muito seria a festa menor e mais pobre, se eles nela não
estivessem. O rei foi então ouvir missa na Sé em companhia de tantos cavaleiros
que ficaríeis maravilhado de os ver. E ele trajava tão rica vestimenta que
maravilha era. E com a rainha iam tantas donas e donzelas, que era grande
maravilha. E ela e eles ouviram missa e foram para o paço. E aconteceu,
entrementes, que, procurando os assentos da távola redonda, acharam: aqui deve
ser fulano e aqui fulano. E quando chegaram ao assento perigoso, encontraram
letreiro recentemente escrito que dizia: a quatrocentos e cinquenta e três anos
cumpridos da morte de Jesus Cristo, em dia de Pentecostes, deve haver este
assento senhor. Por Deus, disse Lancelote, quando esta maravilha ouviu: pois
hoje deve haver senhor, porque da morte de Jesus Cristo a este Pentecostes há
quatrocentos e cinquenta e três anos. E bem quereria, se pudesse, que este
letreiro ninguém visse, até que viesse aquele que o há-de acabar. E eles
disseram: nós guardaremos bem.
Então cobriram o assento com um
pano de seda vermelha, assim como os outros estavam cobertos. Quando o rei veio
da igreja, a rainha foi para a câmara com todas as suas donzelas e companhia. E
o rei perguntou se era hora de comer. Senhor, disse Queia, já tempo é de comer,
pois já está perto de meio dia; mas se vosso costume, que mantivestes até aqui
em todas as grandes festas, quereis manter, não me parece que comer possais,
porque em tão grande festa como esta não aconteceu ainda aventura nenhuma; e
enquanto aventura não vos acontecesse, não costumáveis comer em nenhuma grande
festa.
Verdade é, disse o rei; este meu
costume mantive sempre desde que fui rei e manterei enquanto viver. E pelas
grandes aventuras que na minha corte acontecem, chamam-me rei aventuroso; e por
isso manterei as aventuras, porque, a partir da época em que deixarem de
acontecer, bem sei que a Nosso Senhor não agradará que muito eu reine daí em
diante. Mas assim como as aventuras costumavam acontecer nas festas grandes,
nesta sei bem que no dia de hoje não faltarão, antes acontecerão as maiores e
as mais maravilhosas que nunca aconteceram, pois adivinha meu coração isto. Não
me incomodo de esperarmos um pouco, pois bem sei verdadeiramente que nossa
festa não será hoje sem aventura, mas tive tão grande prazer com a vinda de
Lancelote e de seus co-irmãos, que me esquecia o costume.
Como o cavaleiro caiu da janela bradando. Enquanto
o rei isto dizia, dom Lancelote e muitos outros cavaleiros olhavam para umas
janelas que davam para um regato e viram lá estar um cavaleiro que era natural
de Irlanda, muito fidalgo e bom cavaleiro de armas, de muito grande fama e
muito bem vestido. E estava pensando tanto, que ninguém o podia acordar de seu
pensar, de modo que não prestava atenção à festa nem à corte. E quando estava
assim pensando, deu um grito: Ai!, desgraçado de mim, estou morto! E deixou-se
cair da janela e quebrou-lhe o pescoço. E os cavaleiros que lá estavam foram
até ele para ver o que era e acharam que lhe saía pela boca e pelas narinas
chama de fogo tão forte como se fosse de um fomo aceso, e tinha nas suas
mãos uma carta que lhe escapou. Os cavaleiros pegaram a carta, e o rei chegou
lá com seus cavaleiros para ver aquela maravilha. E porque era companheiro da
távola redonda, quando o rei viu que estava morto, mandou que o levassem fora
do paço, porque não quis que sua corte fosse perturbada com ele. E então o
levaram para fora com muito grande dificuldade, porque queimava tanto que toda
a roupa tinha virado cinza, e não se podia a ele chegar ninguém que não se
queimasse, e, posto ele fora do paço, novamente começaram sua alegria como
antes e muito tinham grande pesar todos do cavaleiro, porque era muito
estimado. Ao rei, muito pesava, mas não o ousava mostrar para não ficar a corte
mais triste. E depois que soube que estava na igreja, disse: cavaleiros, agora
podeis comer, porque já por aventura maravilhosa não deixareis de comer, pois
me parece muito estranha esta aventura». In Manuscrito do Século XII, Heitor Magale, A
Demanda do Santo Graal, TA Queiroz, Editora da Universidade de S. Paulo, 1988,
CDD 398 46, 1989, ISBN 858-500-874-1.
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