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de wikipedia e jdact
Índia.
O Universo do Deus das Pequenas coisas e sua Literatura
«Com
uma história de mais de quatro mil anos, a Índia é um país que, com suas cores,
temperos, cheiros, hibridismos culturais, trajes exóticos, festivais e cânticos
sagrados, arquitectura e incensos, desperta a atenção do Ocidente. Com as suas
dualidades, de estações geladas do Himalaia até às praias quentes e douradas do
sul, de albergues aos hotéis-palácios, do ambiente vibrante de Mumbai às tranquilas
praias de Goa, a Índia fascina todos que, de uma maneira ou de outra, não podem
ficar indiferentes a essa experiência à moda das histórias das mil e uma
noites. O território indiano possui cerca de três milhões de quilómetros quadrados,
localiza-se ao sul da Ásia e divide-se em vinte e nove estados; ao norte faz
fronteira com o Nepal e a China, ao leste com Bangladesh e Mianmar (Birmânia), ao
nordeste com o Butão e ao oeste com o Paquistão. É considerado, depois da China,
o segundo país mais populoso do mundo, com mais de um bilhão de habitantes. O
regime político é o Parlamentarismo e a religião predominante é o hinduísmo,
seguida do islamismo, budismo e outras menores, como o cristianismo e os sikhs, religião panteísta baseada
nos ensinamentos de dez gurus que viveram no nordeste da Índia durante os
séculos XVI e XVII.
A constituição indiana reconhece
oitocentos e quarenta e quatro dialectos e catorze línguas oficiais, sendo que
cada uma delas possui a sua respectiva literatura regional. Entretanto, todas
remontam à cultura clássica baseada na tradição oral sânscrita, a mais antiga
conhecida do ramo indo-europeu, que produziu textos sagrados védicos, nos anos
1500 a.C. Os Vedas (a
ciência, o saber religioso) são quatro livros religiosos considerados os mais
antigos da Índia: Rigveda, Samaveda,
Iajurveda e Atarveda. De acordo com a
preservação desses livros, pode-se considerar que os mesmos apresentam dois
núcleos fundamentais: o Samhitas
(colecções de orações e litanias) e o Bramanas e Upanissades,
textos explicativos em prosa.
O Rigveda (Veda das Estrofes), segundo Eduardo Iáñez, é
o mais antigo de todos e
[...] consta de 1028 hinos
(suktas) divididos em dez livros (mandalas); composto entre 1500 e 1000 a.C.,
cada um dos livros é atribuído a uma família de bardos orsis (profetas) e
destinava-se à classe sacerdotal que pretendia com eles a invocação aos deuses para
que estes assistissem aos sacrifícios.
Essa obra constitui-se de
importante fonte de informações sobre a religião e a população ária, que falava
sânscrito e transmitia seus hinos oralmente. Somente após muitos séculos, houve
o registo escrito desses hinos cantados em casamentos e funerais, cujas
composições eram destinadas aos deuses Indra (deus da guerra e do céu), Agui (deus do fogo), Usas (a aurora), Varuna (deus do mar) e Vanu (deus do vento),
entre outros. O Rigveda já
se revela como uma forma de narrativa épica e até hoje é considerado um dos
textos mais sagrados do hinduísmo.
O Samaveda (Veda dos Cânticos e Melodias) destaca-se
pelo grande valor para a história da música, visto destinar-se ao aprendizado
de canto e de diversas melodias, pelos alunos que desejavam frequentar a escola
do Samaveda, com o
sacerdote Udgatar. A secção textos explicativos apresenta valiosas fábulas sobre
animais e assuntos sagrados. O Iajurveda
(Veda das Fórmulas Sagradas) traz a sua importância atrelada à liturgia do
cerimonial bramânico. Actualmente, são constituídos de cinco livros agrupados
em dois Iajurveda, o
branco e o negro. No branco, encontram-se os mantras, orações e fórmulas de
sacrifícios; no negro, há exposição desses ritos. Os textos explicativos
destacam-se pela presença de comentários acerca da origem das cerimónias
sagradas e por servir de influência para o budismo. O Atarverda (Veda das
fórmulas mágicas) constitui-se de fórmulas e conjuros de diversas procedências
vinculadas à própria figura do Brâmane
ou sacerdote supremo. Possui 731 hinos, alguns em prosa, e uma vasta colectânea
de salmos e orações repletos de encanto poético. Para os textos explicativos,
Eduardo Iáñez esclarece:
As interpretações mais notáveis
correspondem às Upanissades, ensino de doutrinas secretas que se constituem, na
realidade, nas mais antigas manifestações de filosofia indiana: o canto seria a
exposição dos princípios de mundo, deus e alma em torno da concepção panteísta
que poderia resumir-se na identificação Brâmane-alma universal/Atman-alma
individual e na transmigração desta última até à libertação definitiva para
unir-se com Brâmane».
[…]
In Luciana Moura C. Camargo, The Godo d Small
Things, Uma voz poética entre o Oriente e o Ocidente, 2006, Tese de
Doutoramento em Letras, Faculdade de Ciências e Letras, Araraquara, Brasil,
2006.
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