«(…) Na cultura esotérica do Graal, o cálice e a vinha sustentam o ideal de serviço, enquanto o sangue e o vinho correspondem ao eterno espírito de cumprimento. A busca espiritual do Graal é, portanto, um desejo pelo cumprimento, prestando e recebendo serviço. Aquilo que é chamado de Código do Graal é, em si, uma parábola para a condição humana, da busca de todos nós, por meio do serviço. O problema é que o preceito do código foi sufocado por um complexo avaro da sociedade, baseado na noção da sobrevivência do mais forte. Hoje, é evidente que a riqueza, não a saúde, é um demarcador na trilha dos socialmente fortes, enquanto outro critério seria a obediência à lei. Acima dessas considerações, porém, há outra exigência: submeter-se à disciplina do partido enquanto se serve aos semideuses do poder. Esse pré-requisito nada tem a ver com a obediência à lei ou o comportamento adequado; depende totalmente de não balançar o barco nem se ater a opiniões não conformistas.
Aqueles que quebram as regras são
considerados hereges, intrometidos ou criadores de encrenca, e como tais
reputados por seu governo elementos socialmente impróprios. Consequentemente, a
adequação social é conseguida quando se submete à doutrinação e se abandona a
individualidade pessoal para que seja preservado o status quo
administrativo. Sob qualquer padrão de reconhecimento, isso dificilmente seria
descrito como um modo de vida democrático. O ideal democrático é expressado
como Governo pelo povo para o povo. Para facilitar esse processo, as
democracias são organizadas com base eleitoral, em que os poucos representam os
muitos. Os representantes são escolhidos pelo povo para governar para o povo,
mas o resultado paradoxal geralmente é o governo do povo. Isso é contrário a
todos os princípios da comunidade democrática e nada tem a ver com serviço.
Está, portanto, em oposição directa ao Código do Graal. Em nível nacional e
local, os representantes eleitos há muito tempo vêm conseguindo reverter o ideal
harmonioso, colocando a si próprios sobre pedestais acima do eleitorado. Em
virtude disso, os direitos individuais, as liberdades e o bem-estar são controlados
por ditames políticos, que determinam quem é socialmente adequado e quem não é,
em todos os momentos. Em muitos casos, isso implica até decisões sobre quem
pode ou não sobreviver. Com essa finalidade, há muitos que almejam posições de
influência pela pura gana de poder sobre os outros. Servindo a interesses
próprios, eles se tomam manipuladores da sociedade, causando o enfraquecimento
da maioria. O resultado é que, em vez ser servida da maneira justa, a maioria é
reduzida a um estado de servidão. Não é por acaso que, desde a Idade Média, o
lema dos Príncipes de Gales tem sido Ich dien (eu sirvo). Tal lema
nasceu directamente do Código do Graal durante a Era do Cavalheirismo.
Chegando ao trono real por
linhagem hereditária em vez de eleições, era importante para os sucessores
promover o ideal de serviço. Mas a que os monarcas realmente serviam? Ou
melhor, a quem serviam? De um modo geral (e certamente através das eras feudais
e imperiais), eles governaram em conluio com os seus ministros e a Igreja. Governar
não é servir, e faz parte da justiça, igualdade e a tolerância do ideal
democrático. E portanto incompatível com a máxima do Santo Graal. Assim, A
Linhagem do Santo Graal não se restringe em conteúdo a genealogias e histórias
de intriga política, mas as suas páginas contêm a chave do Código do Graal
essencial: a chave não só de um mistério histórico, mas também de um modo de
vida. É um livro a respeito do bom e do mau governo. Explica como o reino
patriarcal do povo foi suplantado pela tirania dogmática e pelo domínio
ditatorial da Terra. É uma jornada de descobrimento através de eras passadas,
com os olhos voltados para o futuro. Nesta era da tecnologia dos computadores,
de telecomunicações por satélite e da indústria espacial internacional, o
avanço científico acontece a uma velocidade assustadora. À medida que cada estágio
de desenvolvimento chega mais rápido, os indivíduos funcionalmente competentes
emergirão como os sobreviventes, enquanto o resto será considerado inadequado
por um establishment impetuoso que serve às próprias ambições, mas não a
seus súbditos». In Laurence Gardner, A Linhagem do Santo Graal, 2004, Editora Madras,
2004, ISBN 978-857-374-882-6.
Cortesia de EMadras/JDACT
JDACT, Laurence Gardner, Literatura, Religião,