Pergunta
«Corpo minha casa
meu cavalo meu cão de caça
o que farei
quando caíres
Onde dormirei
Como cavalgarei
O que caçarei
Onde posso ir sem
minha montaria
ávida e veloz
Como saberei
no matagal adiante
se há perigo ou riqueza
Quando o Corpo meu admirável
esperto cão tiver morrido
Como será
jazer no céu
sem telhado ou porta
e vento em vez de olho
com nuvem para viajar
como hei de cavalgar?»
In
May Swenson, 1994
Prólogo
«O
nome do Curandeiro era Fords Águas Profundas.
Como era uma alma, por natureza
ele era inteiramente bom: compassivo, paciente, honesto, virtuoso e cheio de
amor. A ansiedade era uma emoção incomum para Fords Águas Profundas. A
irritação era ainda mais rara. Contudo, como Fords Águas Profundas vivia dentro
de um corpo humano, às vezes era impossível escapar da irritação. E como os
cochichos dos estudantes Curandeiristas rumorejassem no extremo da sala de
operação, seus lábios se comprimiram numa linha apertada. A expressão ficava fora
de lugar numa boca dada a sorrir com frequência. Darren, seu assistente
habitual, viu a careta e deu um encosto no seu ombro. Eles só estão curiosos,
disse baixinho. Uma inserção não chega a ser exactamente um procedimento interessante
ou desafiador. Qualquer alma pode realizá-la no meio da rua numa emergência.
Nada há que eles aprenderão observando hoje. Fords ficou surpreso ao ouvir o
tom cortante deformando sua voz normalmente suave. Eles nunca viram um humano
adulto, disse Darren. Fords ergueu uma sobrancelha. São cegos para os rostos
uns dos outros? Não têm espelhos? Sabe o que eu quis dizer..., um humano
selvagem. Ainda sem alma. Um dos insurgentes. Fords olhou para o corpo
inconsciente da jovem, deitado de bruços na mesa de operação. A compaixão
encheu seu coração quando ele se lembrou de quanto aquele pobre corpo estava
arrebentado quando os Buscadores o levaram para a instalação de Cura. Quanta
dor ela devia ter sofrido... É claro, agora ela estava perfeita, completamente
curada. Fords cuidara disso. Ela se parece com qualquer um de nós, murmurou
Fords para Darren. Nós todos temos rosto humano. E quando acordar, ela também
será uma de nós. É fascinante para eles, só isso. A alma que implantamos hoje
merece mais respeito do que ter seu corpo hospedeiro observado desse jeito
bobo. Ela já vai ter coisa demais com que lidar enquanto estiver se
aclimatando. Não é justo fazê-la passar por isso. E por isso ele não queria dizer os olhares tolos. Fords ouviu o
tom cortante retornar à sua voz. Darren deu-lhe outra tapinha. Vai dar
tudo certo. Os Buscadores precisam de informação e...
À palavra Buscadores, Fords lançou um olhar
para Darren que só poderia ser descrito como um modo de encarar. Darren piscou,
aturdido. Sinto muito, desculpou-se Fords imediatamente. Eu não queria reagir
de forma tão negativa. É só que temo por essa alma. Seus olhos se deslocaram
para o crio tanque sobre o seu suporte ao lado da mesa. A luz era de um
vermelho-escuro constante, o que indicava que o crio tanque estava ocupado e em
modo de hibernação. Esta alma foi especialmente escolhida para a indicação,
disse Darren para acalmá-lo. Ela é excepcional entre os de nossa espécie...
mais valente que a maioria.
As vidas dela falam por si. Acho
que se ofereceria voluntariamente, se fosse possível perguntar. Quem dentre nós
não se apresentaria voluntariamente quando solicitado a fazer algo em nome do
bem maior? Mas será esse realmente o caso aqui? Estamos servindo ao bem maior
com isso? A questão não é a disposição dela, mas o que é certo pedir a uma
alma, qualquer que ela seja, que suporte. Os estudantes Curandeiristas também
debatiam sobre a alma em hibernação. Fords podia ouvir os sussurros claramente;
a voz deles se elevando, ficando mais alta à medida que se entusiasmavam. Ela
viveu em seis planetas. Ouvi dizer que foram sete. Eu soube que ela nunca viveu
duas durações na mesma espécie hospedeira. Isso é possível? Ela foi quase tudo.
Flor, Urso, Aranha... Alga, Morcego... Até mesmo Dragão! Não acredito..., não
em sete planetas. Pelo menos sete. Ela começou em Origem. É mesmo? Origem? Silêncio,
por favor!, interrompeu Fords. Se não forem capazes de observar profissionalmente
e em silêncio, precisarei pedir que saiam». In Stephenie Meyer, A Hospedeira,
2008, Editora Intrínseca, 2011, ISBN 978-858-057-078-6.
Cortesia de EIntrínseca/JDACT
JDACT, Stephenie Meyer, Literatura,