Quem muito viu
«Quem muito viu, sofreu, passou trabalhos,
mágoas, humilhações, tristes surpresas;
e foi traído, e foi roubado, e foi
privado em extremo da justiça justa;
e andou terras e gentes, conheceu
os mundos e submundos; e viveu
dentro de si o amor de ter criado;
quem tudo leu e amou, quem tudo foi,
não sabe nada, nem triunfar lhe cabe
em sorte como a todos os que vivem.
Apenas não viver
lhe dava tudo.
Inquieto e franco, altivo e carinhoso,
será sempre sem pátria. E a própria morte,
quando o buscar,
há-de encontrá-lo morto».
Poema
de Jorge de Sena
Amo-te Muito, Meu Amor, e Tanto
«Amo-te Muito, Meu Amor, e Tanto
Amo-te
muito, meu amor, e tanto
que, ao
ter-te, amo-te mais, e mais ainda
depois de
ter-te, meu amor. Não finda
com o
próprio amor o amor do teu encanto.
Que encanto
é o teu? Se continua enquanto
sofro a
traição dos que, viscosos, prendem,
por uma paz
da guerra a que se vendem,
a pura
liberdade do meu canto,
um cântico
da terra e do seu povo,
nesta
invenção da humanidade inteira
que a cada
instante há que inventar de novo,
tão quase é coisa ou sucessão que passa...
Que encanto
é o teu? Deitado à tua beira,
sei que se
rasga, eterno, o véu da Graça».
Jorge de Sena, in Poesia, Vol. I
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