Abbaye des Fontaines. Pirinéus Franceses.
Roskilde
«(…) O licitador anónimo
respondeu com duas mil e um terceiro interessado juntou-se à contenda. Os
gritos continuaram e as ofertas subiram até às nove mil coroas. Os outros
pareceram adivinhar que o livro deveria ser valioso e seguiu-se mais um minuto
de intensa licitação que terminou com Hansen a oferecer vinte e quatro mil
coroas. Equivalia a quase quatro mil dólares. Malone sabia que Stephanie, sendo
funcionária pública, deveria auferir qualquer coisa entre setenta e oitenta mil
dólares por ano. O marido falecera há anos e deixara-lhe alguns bens, contudo
não era rica nem sequer coleccionadora de livros, e Malone questionava-se porque
estaria ela disposta a pagar tanto dinheiro por um diário de viagens que
ninguém conhecia. Também lhe apareciam bastantes lá na livraria, a grande
maioria do século XIX e princípios do século XX, uma época em que as narrativas
pessoais de lugares longínquos estavam na moda. Muitas haviam sido escritas
numa linguagem demasiado floreada e extravagante e não tinham qualquer interesse.
Parecia claramente tratar-se de uma excepção. Cinquenta mil coroas, gritou o
representante do licitador anónimo. Era mais do dobro da última oferta de
Hansen.
As cabeças dos presentes
viraram-se e Malone escondeu-se atrás do pilar quando Stephanie se voltou para
ver o homem do telefone. Inclinou um pouco a cabeça para o lado e reparou que
Stephanie e Hansen pareciam conferenciar. Depois concentraram a sua atenção no
leiloeiro. Fez-se um momento de silêncio enquanto Hansen parecia considerar o
seu próximo passo, embora estivesse claramente a seguir as indicações de
Stephanie. Ela abanou a cabeça. O livro é vendido ao licitador do telefone por
cinquenta mil coroas. O leiloeiro retirou o livro do expositor e anunciou um
intervalo de quinze minutos. Malone sabia que os organizadores iam observar o
livro e tentar perceber o que o fazia valer oito mil dólares. Os negociantes de
Roskilde eram homens astutos e pouco habituados a que os tesouros lhes escapassem
dos dedos. Porém, daquela vez tinha acontecido. Deixou-se ficar atrás do pilar
enquanto Hansen e Stephanie permaneciam perto dos seus lugares. Havia algumas
pessoas conhecidas na sala e Malone esperava que nenhuma delas o chamasse. A
maioria dirigia-se para o outro canto onde estavam a servir bebidas. Reparou
que dois homens se aproximaram de Stephanie e se apresentaram. Eram ambos
corpulentos, de cabelo curto e vestidos com roupas semelhantes. Quando um deles
se curvou para lhe apertar a mão, Malone reparou na característica protuberância
de uma pistola nas costas dele.
Após uma troca de palavras, os
homens retiraram-se. A conversa parecia ter sido amigável e, enquanto Hansen
aproveitava a cerveja gratuita, Stephanie aproximou-se de um dos auxiliares,
disse-lhe qualquer coisa e depois saiu por uma porta lateral. Malone dirigiu-se
de imediato ao mesmo auxiliar, Gregos, um dinamarquês esguio que conhecia bem. Cotton,
que bom vê-lo. Sempre à procura de uma pechincha. Gregos sorriu. Difícil
encontrá-las aqui. Aquela última peça foi uma surpresa. Pensei que chegasse até
perto das quinhentas coroas, mas cinquenta mil? Espantoso. Faz alguma ideia do
motivo? Gregos abanou a cabeça. Nenhuma.
Malone
apontou para a porta lateral. A mulher com quem estava a falar, e que saiu,
sabe para onde ia? O auxiliar fitou-o com um sorriso. Está interessado nela? Não
da forma que pensa, mas sim, estou. Malone tornara-se um dos clientes preferidos
da casa de leilões desde que, há alguns meses, ajudara a encontrar um vendedor
desonesto que oferecera três volumes de Jane Eyre, cerca 1847, que
posteriormente se descobriu serem roubados. Quando a Polícia os apreendeu ao
novo comprador, a casa leiloeira foi obrigada a devolver cada coroa, mas o
vendedor já descontara o cheque que a leiloeira lhe dera. Malone encontrou o
homem em Inglaterra e recuperou o dinheiro, fazendo com esse gesto alguns
amigos, que para sempre lhe ficariam gratos. Perguntou-me onde ficava a
Domkirke, em especial a capela de Cristiano IV. Explicou porquê? Gregos sacudiu
a cabeça. Disse apenas que ia até lá». In Steve Berry, O Legado dos Templários,
2006, Publicações dom Quixote, 2007, ISBN 978-972-203-808-9.
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