Abbaye des Fontaines. Pirinéus Franceses.
Roskilde
«(…) Esticou o braço e apertou a
mão do auxiliar. Dobrada na palma da mão ia uma nota de mil coroas. Viu que Gregos
apreciou a oferta e a guardou discretamente no bolso, pois as gratificações não
eram bem vistas pela casa leiloeira. Só mais uma coisa, disse Malone. Quem era
o licitador endinheirado ao telefone? Como muito bem sabe, Cotton, essa informação
é confidencial. Como muito bem sabe, detesto regras. É alguém que eu conheça? É
o proprietário do edifício que aluga em Copenhaga. Por pouco não sorria. Henrik
Thorvaldsen. Devia ter adivinhado. O leilão ia recomeçar. À medida que os
presentes retomavam os seus lugares, Malone dirigiu-se para a entrada e viu
Peter Hansen sentar-se. Lá fora, a noite dinamarquesa começava a arrefecer e,
apesar de serem quase oito horas, o céu guardava ainda alguma luz e cor do
lento entardecer. A alguns quarteirões de distância erguia-se a catedral de
tijolos vermelhos, a Domkirke, onde a família real dinamarquesa era sepultada
desde o século XIII.
O que estaria Stephanie a fazer
ali?
Ia começar a dirigir-se para lá
quando dois homens se aproximaram. Um deles encostou-lhe uma coisa dura às
costas. Não resista, Sr. Malone, ou disparo, murmurou-lhe uma voz ao ouvido. Ele
olhou para a esquerda e para a direita. Os dois homens que vira a conversar com
Stephanie flanqueavam-no agora e nas suas caras espelhava-se o mesmo olhar
ansioso que observara há algumas horas no rosto do homem da faca. Stephanie
entrou na Domkirke. O homem da leiloeira dissera que a catedral era fácil de
encontrar e não mentira. O monstruoso edifício, demasiado grande para a cidade
em seu redor, dominava o céu do fim do dia. No interior da grandiosa igreja
descobriu uma miríade de extensões, capelas e pórticos cobertos por um tecto alto
e abobadado e janelas de vitrais que banhavam as antigas paredes com uma luz
celestial. Apercebeu-se de que a catedral já não era católica, devia ser
luterana, pela decoração, e a sua arquitectura revelava uma influência
claramente francesa.
Estava zangada por não ter
conseguido arrematar o livro. Pensou que não custaria mais de trezentas coroas,
cerca de cinquenta dólares. Mas, para seu azar, um comprador anónimo pagara
oito mil dólares por um inofensivo relato escrito há mais de cem anos. Mais uma
vez, alguém estava a par dos seus intentos. Talvez fosse a pessoa que a
esperava. Os dois homens que a tinham abordado disseram-lhe que ficaria tudo esclarecido
se ela fosse até à catedral e encontrasse a capela de Cristiano IV. Achara tudo
aquilo um pouco despropositado, mas não tinha outra escolha. A verdade é que
havia muita coisa para fazer e o tempo escasseava.
Seguiu
as indicações que lhe tinham sido dadas e contornou o pórtico. Decorria um
serviço religioso na nave à sua direita, frente ao altar-mor, ao qual assistiam
cerca de cinquenta pessoas. A música do órgão ecoava no interior da igreja com
uma vibração metálica. Stephanie encontrou a capela de Cristiano IV e entrou,
abrindo um gradeado de ferro forjado. À sua espera estava um homem de cabelo
fino e grisalho, rosto enrugado e barbeado, que vestia calças de algodão de cor
clara, uma camisa de colarinho desapertado e um blusão de cabedal. À medida que
se aproximava, notou que os olhos escuros possuíam um brilho que de imediato
considerou frio e suspeito. Talvez ele tenha adivinhado a sua apreensão, pois
fitou-a com uma expressão mais afável e sorriu-lhe. Sra. Nelle, que prazer
conhecê-la. Como sabe quem eu sou? Conhecia muito bem o trabalho do seu marido.
Era um grande estudioso de assuntos que me interessam. Que assuntos? O meu
marido era versado em muitas áreas. Rennes-le-Château é o meu principal
interesse, assim como o trabalho que desenvolveu sobre o alegado segredo dessa
aldeia e da terra que a rodeava. Foi o senhor quem arrematou o livro? O homem
levantou os braços como se estivesse a render-se». In Steve Berry, O Legado dos Templários,
2006, Publicações dom Quixote, 2007, ISBN 978-972-203-808-9.
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