Lenda relatada originalmente por frei Bernardo Brito
«Ataces, rei dos Alanos, depois de destruir completamente a cidade de Conímbriga, decidiu fundar ou restaurar uma outra com o mesmo nome na margem direita do Mondego. Quando Ataces andava a dirigir a edificação dessa nova Coimbra, eis que subitamente surge o rei suevo Hermenerico com seu exército, para dela se apoderar e se vingar de derrotas sofridas. O combate que se travou entre as duas facções foi de tal modo sanguinolento que as águas do Mondego se tingiram de vermelho!
Hermenerico
retirou-se para o Norte, mas Ataces foi em sua perseguição e o rei suevo viu-se
forçado a pedir a paz. Para tanto, ofereceu ao vencedor a mão da princesa
Cindazunda, sua filha. Como é de regra em tais casos, diz a lenda que
Cindazunda era extremamente bela e que Ataces logo dela se enamorou. Vem o
régio par de noivos a caminho de Coimbra, acompanhado de sogro e pai, e em
breve se realizam os esponsais e bodas, com a magnificência devida.
Para
comemorar tão extraordinário acontecimento, Ataces concedeu à cidade de Coimbra
o brasão que ainda hoje se mantém no fundamental. A donzela coroada é
Cindazunda; a taça representa o seu casamento com Ataces; o leão é o timbre de
Ataces; o dragão o timbre de Hermenerico.
A história escreveu-se com sonoridades celtas até ao século
II a C., século marcado pela chegada dos romanos e da qual ficaram até aos
nossos dias sinais de uma cultura grandiosa que podemos admirar no Criptopórtico da Civitas
Aeminium que hoje integra o Museu Nacional de Machado de Castro.
Coimbra fez-se depois mourisca e já Almedina
era o nome da cidade dentro das muralhas, quando chegou o tempo da afirmação da
Fé Cristã pela Reconquista. As urbes protegiam-se então à volta dos templos, e
Coimbra, por vontade do rei Afonso
Henriques, primeiro Rei de Portugal, viu nascer em 1131 o Mosteiro de Santa Cruz e fez-se
cidade, berço de Reis.
A Sé Velha,
sagrada em 1184, testemunha ainda hoje o imaginário da Arte Românica. Mas
Coimbra deve aos monges de S. Bento
e de Cister os mosteiros e
conventos de grande sobriedade, onde a luz iluminava paredes nuas e arcos
elevavam as construções a Deus. Santa
Clara-a-Velha, que é deste tempo, testemunhou sempre a devoção que o
povo prestava à Rainha Dona Isabel
de Aragão, que o tempo tornou Santa. Foi em Santa-Clara-a-Velha que
viveu Inês de Castro,
essa bela mulher por quem Pedro
I se tomou de amores. E foi também aqui que Afonso IV mandou executar dona Inês e iniciou assim a mais trágica
e imortal história de amor escrita em Português.
Mas é o Renascimento e a Universidade que distinguem, secularmente, Coimbra. A Universidade foi fundada em 1290 pelo monarca Dinis I e transferida, definitivamente, para Coimbra, em 1537. Várias salas abertas hoje a turistas reflectem ainda a altivez de tempos idos em que madeiras exóticas e ouro do Brasil decoravam os espaços mais sublimes. Em meados do século vinte deu-se, talvez, o maior crime arquitectónico da cidade, quando Oliveira Salazar ordenou a destruição da velha Alta e nela construiu as faculdades e departamentos que hoje conhecemos ao longo da Rua Larga. Foi um período de mudança, mas que sem dúvida permitiu a expansão da Universidade a novas áreas de estudo e a mais estudantes que deram e continuam a dar a Coimbra fados e baladas, livros e poemas, sonhos e Saudade.
História
Data
de 1 de Março de 1290 o diploma do rei Dinis I que anuncia a constituição do Estudo
Geral. Assim foi fundada a Universidade que a bula do papa Nicolau IV
confirmou em 9 de Agosto do mesmo ano. Nela funcionavam todas as faculdades lícitas:
Cânones, Leis, Medicina e Artes. Exceptuava-se Teologia (só criada perto de
1380). Tendo alternado o seu funcionamento entre Lisboa e Coimbra, fixou-se
definitivamente nesta cidade em 1537, por decisão do rei João III, que ao mesmo
tempo a reformou profundamente. Foram então criados vários colégios, entre os
quais o das Artes, o de São Paulo e o de São Pedro, que se estende a sul da
Porta Férrea, com funções de ensino, pensionato e assistência. Durante o reinado
de José I (1750-1777) começa a sentir-se em Portugal o absolutismo
esclarecido, que protagonizou uma das mais importantes reformas
universitárias. Ela ocorreu em 1772 e anos seguintes e teve como principais intérpretes
o poderoso ministro marquês de Pombal, que fora nomeado Visitador da
Universidade, e o Reitor-Reformador Francisco Lemos. Novos estatutos
foram entregues solenemente por Pombal em 29 de Setembro de 1772, e a partir
dai, começam a surgir as marcas da reforma pombalina». In Leo
Duarte, Lenda do Brasão de Coimbra, Pedro Dias, Coimbra, Arte e História, I.H.A., Faculdade de Letras da
Universidade de Coimbra, Portugal -
Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Biográfico, Bibliográfico,
Numismático e Artístico, Volume IV, 1988, Editora João Romano Torres, 1904-1915.
Cortesia
de EJRomanoTorres/UdeCoimbra/JDACT
JDACT,
Frei Bernardo Brito, Leo Duarte, Coimbra, Cultura e Conhecimento,