A Perda
Genizah
«(…) Descobriu a resposta durante
uma intensificação da sua doença, quando a dor cortava a sua respiração no
peito e ele viu as próprias mãos transformadas em garras azuis. Jeremiah tinha
visto Malakh ha-Mavet, o anjo negro, pairando acima dele, como uma promessa.
Sua morte iminente era parte da sua responsabilidade. Os sacerdotes Bukki
recusavam ainda admitir que seu mundo podia mudar, mas todos os outros sentiam
a aproximação da guerra. Madeira foi armazenada ao lado dos muros para fazer
fogo, com o óleo para ser fervido e derramado sobre os atacantes. As primaveras
em Jerusalém eram boas, mas a comida não era suficiente. Juntaram todos os
cereais da cidade e armazenaram em lugares seguros e todos os rebanhos foram
confiscados à espera do horror que se anunciava.
Os que teriam de viver durante o
cerco eram os dignos de pena, portanto Baruch não desperdiçou piedade por si
mesmo. Porém, finalmente a dor o deixou tão fraco que ele não podia mais erguer
a sovela nem a marreta. Outra pessoa teria de terminar seu trabalho. Dos outros
treze homens, Abiathar o Levita era o mais bem equipado para servir de escriba,
mas Baruch começava a pensar como Jeremiah e escolheu Hezekiah. Era um encargo
pesado para o soldado sem prática de escrita, mas ele liderava um grupo de
homens armados de espada e sem dúvida morreria na defesa da cidade e os
segredos morreriam com ele. Na manhã seguinte à armação das barricadas nos
portões, ajudaram Baruch a chegar ao muro e ele viu que o inimigo havia chegado
durante a noite e suas tendas estavam armadas, como pedaços de um mosaico que
se estendia até ao horizonte. Ele e Hezekiah voltaram para a caverna e
terminaram a lista dos esconderijos. No poço sob o Sakhra, ao norte do Grande
Encanamento, num cano que se abre para o norte, foi escondido o documento com
explicação e inventário de cada objecto e sua localização. Baruch esperou
Hezekiah gravar a última letra e enrolou a folha de cobre. Fora dos muros,
estrangeiros com barbas curtas e chapéus altos e pontudos já galopavam nos seus
pequenos póneis em volta da cidade de David. Agora, esconda o rolo de cobre,
disse ele.
O Homem dos diamantes
No seu escritório, no segundo
andar, Harry Hopeman podia ver, por meio de um espelho de duas faces, lá em baixo,
a opulência discreta da Alfred Hopeman & Son, Inc. As paredes, os tapetes e
os móveis eram negros sem brilho ou cinza forte. A iluminação, uma bela luz
branca que dava à Coleção Hopeman um brilho sem igual, como se toda a loja
fosse uma caixa forrada de veludo. Seu visitante era um inglês chamado Sawyer.
Harry sabia que ele estava comprando acções de companhias para os membros da
Organização dos Países Exportadores de Petróleo. Era também do conhecimento
geral que a compra era apenas parte do trabalho de Sawyer. Ele ajudava a manter
a lista negra da OPEP das firmas americanas que negociavam com Israel. Tenho
clientes interessados em comprar um diamante, disse Sawyer. Oito meses antes,
um cliente do Kuwait havia encomendado um colar a Hopeman & Son, e então o
pedido foi cancelado de repente. Desde então, não tinham vendido nada para os
países árabes. Terei prazer em mandar mostrar o que nós temos, disse ele,
intrigado.
Não, não. Eles querem um diamante
em particular, oferecido à venda na Terra Santa. Onde? Sawyer levantou a mão. Em
Israel. Eles querem que o senhor vá a Israel comprar o diamante. É bom saber
que precisam de mim. Sawyer deu de ombros. O senhor é Harry Hopeman. Quem são
eles? Não tenho permissão para dizer. O senhor compreende. Não estou
interessado, disse Harry. Sr. Hopeman. Será uma viagem breve que abrirá uma
porta muito importante e muito dinheiro para o senhor. Nós somos negociantes.
Por favor, não deixe que a política... Sr. Sawyer, se seus empregadores querem
que eu trabalhe para eles, devem-me pedir pessoalmente». In Noah
Gordon, O Diamante de Jerusalém, 1979, Bertrand Editora, 1998, ISBN 978-972-251-041-7.
Cortesia de BertrandE/JDACT
JDACT, Noah Gordon, Literatura, Religião, Conhecimento,