«(…) Com licença!, bradou Anderson correndo na sua direção. O senhor viu um homem careca com uma tipóia no braço? O homem ergueu os olhos do livro com uma expressão confusa. Um careca com uma tipóia!, repetiu Anderson com mais firmeza. - O senhor o viu? O turista hesitou e, nervoso, olhou para a extremidade leste do corredor. Hã..., vi, sim, respondeu. Acho que ele acabou de passar correndo por mim... na direcção daquela escada ali. Ele apontou para o final do corredor. Anderson sacou o rádio e berrou no aparelho. Atenção, todos os postos! O suspeito está se dirigindo para a saída sueste. Todos para lá! Ele guardou o rádio e arrancou a arma do coldre, pondo-se a correr rumo à saída.
Trinta
segundos depois, o louro musculoso de blazer azul saiu tranquilamente pela ala
leste do Capitólio para o ar húmido da noite. Sorriu, saboreando o frescor do
lado de fora. Transformação. Tinha sido tão fácil. Apenas um minuto antes, ele
saíra rapidamente da Rotunda mancando e usando um casaco militar. Depois de se
esconder num vão mal iluminado, havia tirado o casaco militar, revelando o
blazer azul que usava por baixo. Antes de se desfazer do casaco, tirou uma
peruca loura do bolso, colocando-a com cuidado sobre a cabeça. Então endireitou
o corpo, tirou do blazer um guia de Washington e saiu calmamente do vão com um
passo elegante. Transformação. É esse o meu dom. Enquanto as pernas mortais de
Mal'akh carregavam-no em direção à limusine que o aguardava, ele arqueou as
costas, esticando todo o seu 1,90m e jogando os ombros para trás. Respirou
fundo, deixando o ar encher seus pulmões. Podia sentir as asas da fénix tatuada
no seu peito se abrindo. Se ao menos eles conhecessem o meu poder, pensou,
olhando para a cidade à sua frente. Hoje, à noite, a minha transformação irá completar-se. Mal'akh
tivera uma conduta impecável dentro do Capitólio, demonstrando obediência a
todas as regras de etiqueta ancestrais. O antigo convite foi entregue. Se
Langdon ainda não tivesse compreendido qual era o seu papel ali naquela noite,
logo iria entender.
A Rotunda
do Capitólio, assim como a Basílica de São Pedro, sempre tinha o dom de
surpreender Robert Langdon. Ele sabia que aquele espaço era grande o suficiente
para comportar com folga a Estátua da Liberdade, mas de alguma forma a Rotunda
sempre lhe parecia maior e mais sagrada do que ele esperava, como se espíritos
pairassem no ar. Naquela noite, porém, havia apenas caos. Agentes de segurança
do Capitólio estavam isolando a Rotunda ao mesmo tempo que tentavam guiar os
turistas perplexos para longe da mão. O menininho continuava chorando. Uma luz
forte se acendeu, um turista tirando uma foto, e vários seguranças agarraram
imediatamente o homem, tomando-lhe a câmera e escoltando-o até à saída. Na
confusão, Langdon viu-se andando para a frente como num transe, abrindo caminho
pelo aglomerado de gente para chegar cada vez mais perto da mão.
A mão
direita cortada de Peter Solomon estava na vertical, com a superfície plana do
pulso seccionado fincada no prego de uma pequena base de madeira. Três dos
dedos estavam fechados, enquanto o polegar e o indicador se encontravam
esticados, apontando para cima em direcção à cúpula altíssima. Todos para trás!,
exclamou um dos agentes. Langdon estava perto o suficiente agora para ver o
sangue seco que havia escorrido do pulso e coagulado sobre a base de madeira.
Ferimentos post-mortem não sangram..., o que significa que Peter está vivo.
Langdon não sabia se deveria ficar aliviado ou nauseado. A mão de Peter foi
cortada com ele ainda vivo? Bílis subiu até à sua garganta. Ele pensou em todas
as vezes que o monstro que havia feito aquilo parecia ter tatuado pequenos
símbolos nas pontas dos dedos de Peter.
No
polegar, uma coroa. No indicador, uma estrela. Não pode ser. Os dois símbolos
foram registados instantaneamente pela mente de Langdon, ampliando aquela cena
horrenda para transformá-la em algo quase sobrenatural. Aqueles símbolos já
haviam aparecido juntos muitas vezes na história, e sempre no mesmo lugar, nas
pontas dos dedos da mão de alguém. Aquele era um dos ícones mais cobiçados e
secretos do mundo antigo. A Mão dos Mistérios. O ícone raramente era
visto hoje em dia, mas, ao longo da história, havia simbolizado um poderoso
chamado à acção. Langdon se esforçava para compreender o grotesco artefacto à
sua frente. Alguém usou a mão de Peter para fabricar a Mão dos Mistérios?
Era inimaginável. Tradicionalmente, o ícone era esculpido em pedra ou madeira,
ou então desenhado. Langdon nunca tinha ouvido falar de uma versão de carne e
osso. A ideia era repulsiva.
Senhor?,
disse um segurança atrás de Langdon. Afaste-se, por gentileza. Langdon mal
ouviu o que ele disse. Há outras tatuagens. Embora não pudesse ver as pontas dos
três dedos fechados, Langdon sabia que também ostentariam marcas singulares.
Era essa a tradição. Cinco símbolos ao todo. Ao longo dos milénios, os símbolos
na ponta dos dedos da Mão dos Mistérios nunca haviam mudado..., e
tampouco o objectivo simbólico da mão.
A mão
representa..., um convite.
Langdon
teve um súbito calafrio ao recordar as palavras do homem que o levara até ali.
Professor, o senhor vai receber o convite da sua vida. Nos tempos antigos, a Mão
dos Mistérios representava, na verdade, o convite mais cobiçado da Terra.
Receber aquele ícone era uma convocação sagrada para se unir a um grupo de
elite, aqueles que
eram considerados os guardiões do conhecimento secreto de todos os tempos. O
convite não só era uma grande honra, como também significava que um mestre o
considerava digno de receber aquele conhecimento oculto. A mão que o mestre
estende ao iniciado». In
Dan Brown, O Símbolo Perdido, 2009, Bertrand Editora, 2009, ISBN
978-972-252-014-0.
Cortesia de BertrandE/JDACT
JDACT, Washington DC, Dan Brown, Literatura, Maçonaria,