Abbaye des Fontaines. Pirinéus Franceses. Roskilde
«(…) Se isso aconteceu, ele não
sangrou. Isso significava que estavam a usar coletes à prova de bala. O grupo
viera preparado, mas para o quê? Quanto tempo mais planeia ficar na Dinamarca?,
interrogou o inspector. Amanhã já cá não estarei, respondeu Stephanie. A porta
abriu-se e um homem fardado entregou uma folha de papel ao inspector. Este leu
o seu conteúdo e depois disse: Parece que a senhora tem amigos muito poderosos.
Os meus superiores dizem-me que devo soltá-la e não fazer perguntas. Stephanie
dirigiu-se para a porta. Malone levantou-se. Estou incluído nessa ordem? Sim,
também pode ir. Esticou a mão para levar a arma, mas o inspector não permitiu. No
papel não há nada que diga que tenho de lhe devolver a Beretta. Decidiu não
discutir. Trataria desse assunto mais tarde. O mais importante agora era falar
com Stephanie. Saiu a correr e encontrou-a lá fora. Ela fitou-o com uma
expressão séria.
Cotton, agradeço muito o que fez
na catedral, mas escute bem o que lhe vou dizer. Não se meta nos meus assuntos.
Não sabe o que está a fazer. Na catedral meteu-se numa situação perigosa sem
estar sequer preparada para ela. Aqueles três homens queriam matá-la. Tiveram
muitas oportunidades para o fazer, antes de você aparecer, e não o fizeram.
Porquê? Isso levanta ainda mais questões. Não tem que fazer na sua livraria? Até
tenho muito. Então dedique-se a essa tarefa. Quando se reformou o ano passado,
deixou bem claro que estava farto de ser alvo de balas. Também me disse que o
seu patrono dinamarquês lhe oferecia a possibilidade de ter a vida com que
sempre sonhara. Pois então, aproveite-a. Foi a Stephanie quem me ligou a
convidar para um café. E já vi que foi uma péssima ideia. Aquele homem não era
nenhum ladrão de carteiras. Não se meta nisto. Salvei-lhe a vida, está em
dívida para comigo. Ninguém lhe disse para o fazer. Stephanie...
Raios, Cotton, não volto a
repetir. Se insistir terei de tomar atitudes drásticas. Começava a ficar
irritado. Ai sim? E o que planeia fazer? O seu amigo dinamarquês não é o único
com influência. Eu também posso mexer uns quantos cordelinhos. Faça isso!,
ripostou, furioso. Stephanie não respondeu. Em vez disso, virou costas e
afastou-se. A sua vontade era ir atrás dela e terminar o que tinham começado,
mas decidiu que ela tinha razão. Não era assunto dele e já fizera estragos
suficientes para uma noite. Estava na hora de ir para casa.
Copenhaga
De Roquefort aproximou-se da
livraria. A rua pedonal mesmo em frente estava agora deserta, pois a maior parte
dos cafés e restaurantes ficava a quarteirões de distância. O comércio daquela
parte da Ströget fechava à noite. Assim que tratasse das duas últimas tarefas,
deixaria a Dinamarca. Por certo as testemunhas da catedral já os tinham
descrito à Polícia, por isso era importante que não se demorassem mais do que o
necessário. Trouxera consigo de Roskilde quatro dos seus subordinados e
planeava supervisionar cada detalhe das suas acções. Já houvera demasiada
improvisação para um dia só e parte dela custara a vida de um dos seus homens na
Torre Redonda. Não pretendia perder mais nenhum. Dois deles estavam já a inspeccionar
as traseiras da livraria e os outros dois permaneciam a seu lado. Havia luz no
primeiro andar do edifício. Ainda bem. Ele e o dono precisavam de ter uma
conversa. Malone tirou uma Pepsi do frigorífico e desceu quatro lanços de
escadas até ao rés-do-chão. A sua loja ocupava todo o edifício. O rés-do-chão
era para os livros e os clientes, os outros dois serviam de armazém e o último
era um pequeno apartamento ao qual chamava casa. Acostumara-se ao espaço exíguo
e apreciava-o bem mais do que a casa enorme na qual vivera em Atlanta. A sua
venda, no ano anterior, por cerca de trezentos mil dólares, dera-lhe um
rendimento de sessenta mil dólares para investir na sua nova vida, que lhe fora
oferecida, como Stephanie referira, pelo seu benfeitor dinamarquês, um
homenzito estranho chamado Henrik Thorvaldsen». In Steve Berry, O Legado dos
Templários, 2006, Publicações dom Quixote, 2007, ISBN 978-972-203-808-9.
Cortesia PdomQuixote/JDACT
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