Um lugar chamado Magdala
«(…) Magdala, o local de
nascimento de Maria Madalena, era uma aldeia miserável, de acordo com a edição
de 1912 do Guia
para a Palestina e a Síria, de Baedeker. A Galileia sofrera séculos de
abandono e desolação sob o Império Otomano, e antes disso sob os mamelucos.
Mejdal, como Magdala era chamada em árabe, foi frequentemente descrita por
viajantes como empobrecida e pouco habitada; ela poderia ter sido totalmente
abandonada se não tivesse recebido reassentamento de camponeses egípcios no século
XIX. E mesmo assim, como Mark Twain escreveu em A viagem dos inocentes, seu livro
sobre suas viagens na Terra Santa, publicado em 1867, Magdala era completamente
feia e apertada, esquálida, desconfortável e suja, e as margens do mar da
Galileia, cujo nome antigo, Genesaré, significava um jardim de riquezas, haviam
se tornado um deserto silencioso. Nada mudou muito em Mejdal ao longo do século
XX, a não ser pelo cenário se ter tornado mais desolado e deprimente; tudo o
que havia para ver em Magdala eram galinhas ciscando o que restara de mosaicos
antigos.
No entanto, entre aqueles
mosaicos os arqueólogos hoje estão descobrindo uma vasta cidade que floresceu
na época de Jesus nesta margem noroeste do mar da Galileia, um grande lago de água
doce alimentado pelo rio Jordão. Escavações mostram que Magdala foi uma cidade
helenística fundada no século II a.C. pelos hasmoneus, uma dinastia judaica
independente que devia suas origens à revolta dos macabeus contra o domínio
grego dos selêucidas nos anos 160 a.C., embora fosse uma dinastia, de qualquer
forma, profundamente imbuída de cultura grega. Comparável em plano e tamanho a algumas
das cidades mais importantes da Grécia e da Ásia Menor, Magdala serviu para
trazer o mundo mediterrâneo ao coração da Galileia. Grandes porções de seu
principal arruamento, o decúmano máximo, correndo de leste a oeste, e o cardo máximo,
de norte a sul, foram descobertas, e abaixo delas canais de água que
alimentavam os poços da cidade, fontes e um grande complexo de banhos públicos.
Ainda mais impressionantes eram as instalações portuárias, incluindo um cais e
pedras de atracação, uma bacia interior em forma de L protegida por um quebra-mar e as fundações maciças de uma torre.
Construção nessa escala só
poderia ter sido realizada com o apoio dos governantes hasmoneus e com a intenção
de tornar Magdala o maior porto na costa ocidental do mar da Galileia e um
importante centro para a indústria de pesca e conservação dos peixes para ampla
distribuição e exportação. A cidade foi ainda mais embelezada e ampliada após
os hasmoneus terem sido derrubados em 37 a.C. pelos romanos, que estabeleceram
um Estado cliente sob o governo de Herodes, o Grande, e seus sucessores. Escavações
revelaram uma sinagoga decorada com um piso de mosaico e paredes pintadas; uma
moeda encontrada dentro da sinagoga a situa no ano 29 d.C., aproximadamente o
ano em que Jesus estava anunciando o reino iminente de Deus em todas as cidades
e aldeias da Galileia. Perto das ruínas da antiga sinagoga foi construído um
moderno centro de peregrinação, revivendo uma antiga tradição, acolhendo
aqueles que chegam na esperança de encontrar Maria Madalena. Talvez nesta
sinagoga Maria Madalena tenha ido orar e Jesus, pregar. Certamente, em 26 de Maio
de 2014, durante sua visita a Jerusalém, o papa Francisco deu a sua bênção ao tabernáculo
que ficará na nova igreja que está sendo construída em Magdala». In Michael
Haag, Maria Madalena, Zahar, 2018, ISBN 978-853-781-739-1.
Cortesia de Zahar/JDACT
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