segunda-feira, 14 de novembro de 2022

O Símbolo Perdido. Dan Brown. «Katherine deu um suspiro, pois tinha-se esquecido de como era difícil discutir com um homem tão versado em história»

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«(…) Esse é o elo perdido entre a ciência moderna e o misticismo antigo.

Katherine havia aprendido isso com Peter, e agora, voltando a pensar nele, sua preocupação começou a aumentar. Ela foi até a biblioteca do laboratório e espiou lá para dentro. Vazia. A biblioteca era uma pequena sala de leitura, duas poltronas Morris, uma mesa de madeira, duas luminárias de piso e uma parede inteira de prateleiras de mogno contendo cerca de 500 livros. Katherine e Peter tinham reunido ali seus textos preferidos, englobando assuntos que iam desde física de partículas até misticismo antigo. Sua colecção havia se transformado numa mistura ecléctica de novo e antigo... vanguarda e história. A maioria dos livros de Katherine possuía títulos como Consciência Quântica, A Nova Física e Princípios da Neurociência. Os de seu irmão eram mais antigos e mais esotéricos, tais como o Caibalion, o Zohar, A Dança dos Mestres Wu Li e uma tradução das tabuletas sumérias publicada pelo Museu Britânico.

A chave para o nosso futuro científico, dizia sempre seu irmão, está escondida no nosso passado. Peter, que passara a vida inteira estudando história, ciência e misticismo, havia sido o primeiro a incentivar Katherine a aprimorar sua formação universitária científica debruçando-se sobre a filosofia hermética primitiva. A irmã tinha apenas 19 anos quando Peter despertou seu interesse pelo elo entre a ciência moderna e o misticismo antigo. Então me diga, Kate, perguntara-lhe o irmão quando ela estava de férias em casa durante seu segundo ano em Yale, o que estão lendo no curso de Física Teórica? Na vasta biblioteca da família, Katherine recitara sua desafiadora lista de leitura. Impressionante, retrucou seu irmão. Einstein, Bohr e Hawking são génios modernos. Mas está lendo algo mais antigo? Katherine coçou a cabeça. Quer dizer..., tipo Newton? Ele sorriu. Mais antigo ainda. Aos 27 anos, Peter já havia construído uma reputação no mundo académico, e ele e Katherine tinham adquirido o hábito de se divertirem com aquelas disputas intelectuais de brincadeira. Mais antigo do que Newton? A cabeça de Katherine então se encheu de nomes distantes como Ptolomeu, Pitágoras e Hermes Trismegisto. Ninguém mais lê essas coisas. Seu irmão correu um dedo pela comprida prateleira de lombadas de couro rachadas e velhos volumes empoeirados. O conhecimento científico dos antigos era impressionante... Só agora é que a física moderna está começando a compreender tudo o que eles diziam.

Peter, falou Katherine, já me disse que os egípcios entenderam o funcionamento de alavancas e polias muito antes de Newton e que o trabalho dos primeiros alquimistas era comparável à química moderna, mas e daí? A física de hoje em dia lida com conceitos inconcebíveis para os antigos. Como por exemplo...? Bom..., como a teoria do entrelaçamento, por exemplo! A pesquisa subatómica tinha provado categoricamente que toda a matéria estava interligada..., entrelaçada numa única trama unificada..., uma espécie de unidade universal. Está-me dizendo que os antigos ficavam sentados conversando sobre a teoria do entrelaçamento? Sem dúvida!, disse Peter, afastando dos olhos a comprida franja escura. O entrelaçamento estava no cerne das crenças primitivas. Seus nomes são tão antigos quanto a história... Dharmakaya, tao, brâman. Na verdade, a mais antiga busca espiritual do homem era para perceber seu próprio entrelaçamento, sentir sua interconexão com todas as coisas. O homem sempre quis se tornar um com o Universo..., alcançar o estado de união. Seu irmão arqueou as sobrancelhas. Até hoje, judeus e cristãos ainda buscam a redenção..., embora a maioria de nós tenha se esquecido de que, na verdade, o que estamos buscando é a união. Katherine deu um suspiro, pois tinha-se esquecido de como era difícil discutir com um homem tão versado em história.

Tudo bem, mas está generalizando. Eu estou falando de física específica. Então seja específica. Os olhos dele agora a desafiavam. Tudo bem, que tal algo tão simples quanto a polaridade..., o equilíbrio entre positivo e negativo do universo subatómico. É óbvio que os antigos não enten... Espere aí!, Seu irmão puxou da estante um grande volume empoeirado, que deixou cair com um baque sobre a mesa da biblioteca. A polaridade moderna nada mais é do que o mundo dual descrito por Krishna aqui no Bhagavad Gita mais de dois mil anos atrás. Uma dezena de outros livros desta biblioteca, incluindo o Caibalion, falam sobre sistemas binários e forças opostas na natureza. Katherine estava céptica. Tá, mas se falarmos das modernas descobertas subatómicas..., do princípio da incerteza de Heisenberg, por exemplo...» In Dan Brown, O Símbolo Perdido, 2009, Bertrand Editora, 2009, ISBN 978-972-252-014-0.

 Cortesia de BertrandE/JDACT

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