Três Irmãs na Corte de Leão (1086-1094
S.
Pedro de Montes, Bierzo, Abril de 1086
«Teresa
escondeu-se entre as rochas, fazendo sinal a Elvira para que estivesse calada
como um rato. O imperador passou a galope, o leão da capa vermelha a rugir ao
vento, deixando ver a cota dourada que só o rei podia usar. Seguia ladeado e
protegido pelos seus homens, como convinha a quem viajava por estas veredas isoladas,
onde os saqueadores ou os seus inimigos
poderiam armadilhá-lo com facilidade.
O chão estava ainda gelado, Abril
acabado de entrar e Teresa reparou com alívio que os cavaleiros estavam
demasiado concentrados em evitar que as montadas escorregassem, para reparar
nos quatro olhos, brilhantes, que os observavam por entre a folhagem. Demasiado
distraídos para darem pela paisagem daquele vale do Paraíso, a neve no topo dos
montes, a erva de um verde renascido, tão vivo que encandeava os olhos, os
carvalhos e os castanheiros em flor, a descerem em direcção ao rio.
Elvira subitamente espirrou. Uma
vez, duas, três, as mãos a taparem a boca na urgência de abafar o barulho, que
ecoava no silêncio absoluto, quase como uma avalanche. O jovem escudeiro que
fechava a comitiva puxou as rédeas a fundo e olhou em redor, desconfiado.
Teresa reconheceu-o. Alberto, murmurou baixinho, incapaz de conter a surpresa,
mas ele não deu por ela, ou fingiu não dar, e esporeando o cavalo lazão partiu
de novo no encalço dos outros, que já se afastavam.
Teresa saiu do esconderijo
improvisado, furiosa com a irmã, que encolheu os ombros aflita, apontando para
as mimosas em flor: Sabes que perto delas espirro sempre, lamentou-se.
Com 7 anos, Elvira era um ano
mais velha do que Teresa, mas quem as conhecia e para dizer a verdade mesmo
quem as visse apenas uma vez, percebia que era Teresa quem dava as ordens, gizava
os planos, construía as estratégias. Mandava, portanto.
Não sei como é que um dia queres
combater os mouros se nem te consegues esconder de um grupo de homens armados,
nas montanhas que conheces desde que nasceste, refilou. E pegando na espada que
deixara escondida entre os fetos, ordenou: Agora não há nada a fazer, vamos
embora que a mãe vai ficar furiosa por não estarmos vestidas e prontas para
descer». In Isabel Stilwell, Dona Teresa, Livros Horizonte, 2021, ISBN
978-972-242-003-7
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