segunda-feira, 4 de setembro de 2023

Marie. A Duquesa das Intrigas. Juliette Benzoni. «No interior do veículo forrado de veludo verde e guarnecido de almofadas para amortecer os solavancos do caminho, duas mulheres, sensivelmente da mesma idade…»

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Sede de Vingança

A Casa da Galigai

«Â tempestade voadora de dezasseis cascos ferrados devorava a estrada estreita, rebocando uma carruagem cujo habitáculo verde-escuro sem brasão e cortinas de couro descidas não deixaram distinguir os ocupantes. Acabavam de atravessar Boissy-Saint-Léger sem parar, evitando o fecho das portas e, à justa, uma carroça, salva da colisão pelo portão de uma granja. Aquele dia de Abril de 1622 estava muito frio, já era tarde e tratava-se de chegar antes do cair da noite.

O único lacaio do veículo lançado a toda a velocidade ia agarrado na boleia com unhas e dentes, ao lado do vigoros cocheiro quase tão largo quanto alto e cujos punhos seguravam com à-vontade as rédeas dos quatro furiosos demónios da sua atrelagem. O homem chamava-se Peran, um bretão maciço e silencioso com um chapéu preto enterrado até às sobrancelhas, uma silhueta que se diria talhada a cinzel no seu granito natal. Ao serviço da duquesa praticamente desde sempre, era-lhc totalmente devotado, totalmente obediente, contestando-a apenas quando a sua fantasia imprevisível a fazia correr perigo.

No interior do veículo forrado de veludo verde e guarnecido de almofadas para amortecer os solavancos do caminho, duas mulheres, sensivelmente da mesma idade, iam sentadas cada uma no seu canto e no mais absoluto silêncio. Desde a saída de Paris que não trocavam palavra. Uma delas era uma bela jovem morena de tez clara, elegante, com um vestido cinzento bordado a sutache de seda, tão branca como e pequena gola de renda engomada que lhe dava um ar fino, um pouco grave,  talvez, mas iluminado por dois belos olhos aveludados cor de castanha, uns olhos que regressavam sem cessar ao perfil imóvel da sua companheira com uma profundidade e uma inquietação que não ousavam exprimir. Nunca Elen du Latz, dama de companhia privilegiada da duquesa, lhe vira aquela expressão tensa, aqueles lábios cerrados, aquelas pupilas cintilantes de lágrimas que um orgulho abrasador impedia que caíssem e não percebia a razão de um tal estado de espírito por parte daquela que era, sem dúvida, a mais bela e a mais invejada das damas do reino». In Juliette Benzoni, Marie, A Duquesa das Intrigas, Editiones Plon, Bertrand Editora, 2004, ISBN 972-251-432-6.

Cortesia de BEditora/JDACT

JDACT, Juliette Benzoni, Literatura, Conhecimento, França,