«(…) Então deixarei a indicação para ela vir para aqui assim que retornar. Olhou para o lado. Lizzie, pode... Ora essa, onde é que ela se enfiou? Estava aqui mesmo antes de a Celia trazê-lo e até leu o seu cartão... Estalou a língua em sinal de exasperação. Por favor, aguarde aqui, lord Sebastian, enquanto vou pessoalmente dizer para nos enviarem miss Kelmsleigh.
Deixou-o
no meio da vegetação. O ar tinha um aroma luxuriante cuja densidade húmida
continha um pouco de tudo. Citrinos e rosas e até o laivo fresco da erva. Uma
pessoa podia se inebriar com um perfume daqueles. Enfiou o dedo na terra de um
dos vasos em que mrs. Joyes estivera trabalhando. Tocou no volume de um bulbo. Desceu
tranquilamente o corredor, passando por vários limoeiros em vasos e por mesas
de botões floridos. No fundo do edifício uma videira crescia dentro do vidro. A
raiz encontrava-se do lado de fora, mas o pé espesso entrava por um buraco
aberto na parede de tijolo. As várias gavinhas trepavam por apoios robustos,
estirando-se depois por barras de ferro, colocadas meio metro acima da sua
cabeça. Debaixo deste frondoso caramanchão interior, estavam uma mesa de pedra
e quatro cadeiras, compondo uma vinheta toscana.
Foi
uma experiência, esclareceu mrs. Joyes, regressando. A videira, não pensei que
resultasse. Deve ser agradável ficar sentado a esta mesa nos dias
ensolarados de Inverno. Tem um belo conservatório de plantas.
É
uma estufa. A maior parte daquilo que as pessoas chamam conservatórios na
realidade são estufas, ou estufas de forçagem. Imagino que a palavra não seja
suficientemente requintada e por isso a designação incorrecta se tenha tornado
comum. Um verdadeiro conservatório de plantas faz isso mesmo, limita-se a
conservar as plantas durante o Inverno, período em que estão em dormência.
Temos um desses, também, no fundo do jardim. O rosto dela voltou a prender sua
atenção.
Queira
me desculpar, acho que fui inadvertidamente grosseiro. Já nos cruzamos, tenho
certeza, mas não consigo me lembrar onde. Já nos cruzamos, realmente, anos
atrás. Eu trabalhava como governanta para a família do duque de Becksbridge.
Fomos apresentados um ao outro numa recepção no jardim, à qual fui autorizada a
ir com a mais velha das minhas pupilas. Tem uma memória excelente para as
pessoas insignificantes com as quais se cruza na vida, lord Sebastian. Se ela
fosse de facto insignificante, ele poderia merecer o elogio, mas duvidava de
que algum homem esquecesse que a conhecera.
Já
fui em outras festas com as crianças presentes. Não me lembro de vê-la nessas.
Só estive com elas um ano, antes de conhecer o capitão Joyes e deixar minha
posição. Na cidade ninguém ouviu falar que houvesse algum homem na casa. O seu
marido está ao serviço da marinha?
Esteve no exército.
Morreu na Guerra Peninsular. A pergunta não alterou a graciosidade da sua
postura, mas os olhos, escurecendo um pouco, revelaram que o assunto ainda lhe
causava dor. Se me der licença novamente, vou ver porque demora Audrianna. Já
devia ter voltado». In Madeline Hunter, Deslumbrante, Edições ASA, 2013,
ISBN 978-989-232-372-5.
Cortesia de EASA/JDACT
JDACT, Madeline Hunter, Escrita, Saber,