Cortesia de porosidadeeterea
Labarinto
No cego labarinto de um cuidado,
Onde tudo é pesado e descontente,
Perseguido de amor injustamente,
De mil montros crueis ando cercado.
D'alma, de vos e de mi mesmo ausente
Até das esperanças já deixado,
Sigo um desejo mal afortunado,
Porque tudo me canse e atromente.
Vejo armar-te de novo o mal presente,
Vejo-me a mi de todo desarmado,
Tão longe do remedio desejado
E do que algum hora fui tão diferente.
Só c'os despojos do meu bem passado
Vejo amor tão soberbo e tão contentee
Como quiz o destino que o consente,
Como o tempo cruel tinha ordenado.
Fernão Rodrigues Soropita
Sonetos
1
De amor, de enveja, de ira, sai armado
aquele deshumano pensamento
por quem foi sempre meu contentamento
com tanta sem rezão tiranizado.
Treme a alma só de o ver, e ele, indinado,
nas mãos da morte toma juramento
de não ficar com modo de tromento
com que não prove em mi seu braço airado.
E en tanto aperto, se inda assi levanto
os olhos para os seus, sempre sereno,
onde o meu belo sol pode em mi tanto.
pos-me na vista deles tal veneno
amor, que o mal que passo o mundo espanto,
mas amor que mo faz, inda é piqueno.
Fernão Rodrigues Soropita
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