Viaduto des Arts
Cortesia de gutierrez
«Ao longo do Segundo Império, o plano de Haussmann mudou a face da cidade de Paris. Grandes avenidas interligadas, praças de estrutura radial e extensas zonas verdes deram forma à nova ordem. Mas a reforma também originou uma profunda ruptura social.
Paris conservava em meados do século XIX a estrutura urbana da cidade medieval, mas o crescimento demográfico por que passou a partir do século XVIII originou a enorme deterioração das condições de habitabilidade das suas casas e ruas. Já desde a Revolução Francesa e do Império de Napoleão I se tinham abordado reformas pontuais. Durante a década de 1830, quando Rambuteau era perfeito de Paris, tomou-se consciência da gravidade e envergadura do problema. É sua esta frase: «É preciso dar aos parisienses água, ar e sombra». Mas foi a partir da proclamação do Segundo Império, em 1852, por Carlos Luís Napoleão Bonaparte como Napoleão III, que se levou à prática um plano de reforma urbanística assinado por Haussmann.
Cortesia de olympia1855
A higienização e modernização da cidade era o principal objectivo, mas o controlo e fácil repressão dos seus habitantes, depois da experiência de uma série de revoluções que o século trouxe consigo, não constituiu um factor de menor importância.
O plano urbanístico
A empresa da reforma urbanística dirigida por Haussmann abarcou todo o período do Segundo Império e, inclusive, alargou-se para lá de 1870, até à Terceira República.
O Bar do Folies Bergère e Bois de Boulogne
Manet
Cortesia de wikipedia
O desenvolvimento das operações reflecte a evolução do Império: autoritário até 1859, mais brando a partir de 1860. Entre 1854 e 1858, Haussmann aproveitou a fase mais autoritária do reinado de Napoleão III para empreender o que talvez só neste decénio pudesse ser efectuado em toda a história de Paris: transformar o seu centro perfurando-o com um cruzamento gigantesco, formado pelo Boulevard de Sébastopol e pelo seu prolongamento no Saint Michel com a rue du Rivoli, que mandada construir por Napoleão I, se alongaria agora até à rue Saint Antoine. Este enorme cruzamento completar-se-ia com eixos que ligavam a primeira coroa de ‘boulevards’ com o centro, como a rue de Rennes na margem esquerda do rio Sena e a avenue de L’Opéra na margem direita.
A coroa de ‘boulevards’, por seu lado, terminaria com os ‘boulevards’ Haussmann e Voltaire na margem direita e com o Saint Germain na esquerda. Nos últimos anos do mandato de Haussmann, os bairros do oeste beneficiaram de uma operação de prestígio:
- Doze avenidas, novas na sua maioria, uniram-se na Place de L’Étoile.
Além desta, criaram-se outras praças como núcleos nevrálgicos por toda a Paris:
- A Place Léon-Blum, a da République, a da Opéra, a de L’Alma.
O plano concluir-se-ia com a construção de estações de caminho-de-ferro (a de Lyon e a do Nord), monumentos (a Opéra de Garnier e os teatros da Place de Chatelet, de Davioud) e grandes espaços verdes ( o Bois de Bolongne, a oeste, e o de Vencennes, a leste).
A ruptura social
O plano de renovação urbanística de Haussmann teve os seus custos sociais. Em todo o período do Segundo Império, destruíram-se vinte mil edifícios para se construírem quarenta mil, o que levou a arrancar das suas raízes uma boa parte da população.
O Bois de Boulogne
Renoir e Jean Béraud
Cortesia de wikipedia
Além disso, as diversas classes sociais co-habitavam antes nos mesmos bairros e casas, enquanto, depois da reforma, se criou uma grande ruptura social: os ricos e burgueses ocuparam a zona oeste e o centro, as zonas mais favorecidas pelo Plano Haussmann, e os pobres ficram na zona ficaram na zona leste ou foram para a periferia, marginalizados pela reforma.
NOTA: Para estabelecer um bosque na zona oeste de Paris, chamado Bois de Boulogne, Napoleão III mandou Haussmann construir um parque à semelhança do Hyde Park de Londres. Criaram-se assim zonas de relva, bosques de carpas, cedros, castanheiros, olmos e até sequóias. Também por lá passava um regato e formaram-se lagos, um superior e outro inferior, ligados por uma cascata. Todas as alamedas, à excepção de duas, foram desenhadas de maneira serpentiforme. Finalmente, abriram-se 35 km de caminhos, 8 km de vias para ciclistas e 9 km para a equitação. Do conjunto, destacam-se o parque de Bagatelle e o hipódromo de Longchamp.
O historiador Robert Herbert defende que os impressionistas, com quadros como ‘O Bar do Folies Bergère’ de Manet, mostraram claramente esta falta de ligação entre as classes». In Gayban Grafie, ISBN 978-989-651-085-5.
Cortesia de Gayban/JDACT