Cortesia de coisasdepoesia
Manhã de Abril
Que esplendor! A cotovia
canta na amplidão sonora;
lancemos esta anemia
aos risos fulvos da aurora!
Sim, a aurora purifica;
nada tem virtude igual:
nem as drogas da botica,
nem os sermões de moral.
Eu sinto o meu corpo exangue,
cheio de tédio febril:
vou dar-lhe banhos no sangue
das madrugadas d'Abril..
Vamos encher, mocidade,
c'roados de mirto e hera,
o tarro da hilaridade
nos peitos da Primavera!
Também causam sonolência
os livros dos grandes mestres;
eu hoje aos frutos da ciência
prefiro amoras silvestres.
Nos livros há muita asneira,
nos campos muita razão:
caíu duma laranjeira
a lei da gravitação.
Viva a loucura! Minerva,
ergue um pouco os teus vestidos
e vem rolar sobre a erva
dos belos campos floridos!
Vamos por essas campinas,
essas encostas frondosas!
Juvenal, canta as boninas!
Proudhon, faz versos às rosas!
Eu sinto-me hoje criança,
com propensões ao idílio...
Anda daí, Sancho Pança,
dá cá o braço, Virgílio!
Poema de Guerra Junqueiro, in 'A Musa em Férias'
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