sexta-feira, 6 de abril de 2012

Poesia. Ídílios e Sátiras. Guerra Junqueiro. «Por isso, quando o Sol da vida já declina, mostrando-nos ao longe as sombras do poente, é-nos doce parar na encosta da colina...»

Cortesia de coisasdepoesia

Manhã de Abril
Que esplendor! A cotovia
canta na amplidão sonora;
lancemos esta anemia
aos risos fulvos da aurora!

Sim, a aurora purifica;
nada tem virtude igual:
nem as drogas da botica,
nem os sermões de moral.

Eu sinto o meu corpo exangue,
cheio de tédio febril:
vou dar-lhe banhos no sangue
das madrugadas d'Abril..

Vamos encher, mocidade, 
c'roados de mirto e hera,
o tarro da hilaridade
nos peitos da Primavera!

Também causam sonolência
os livros dos grandes mestres;
eu hoje aos frutos da ciência
prefiro amoras silvestres.

Nos livros há muita asneira,
nos campos muita razão:
caíu duma laranjeira
a lei da gravitação.

Viva a loucura! Minerva,
ergue um pouco os teus vestidos
e vem rolar sobre a erva
dos belos campos floridos!

Vamos por essas campinas,
essas encostas frondosas!
Juvenal, canta as boninas!
Proudhon, faz versos às rosas!

Eu sinto-me hoje criança,
com propensões ao idílio...
Anda daí, Sancho Pança,
dá cá o braço, Virgílio!

Poema de Guerra Junqueiro, in 'A Musa em Férias'

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