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«O período mongol na China pode-se dizer que vai de 1280 até à morte de Kubilai, em 1294. Depois desse marco, até 1368, a definitiva vitória nacional do “Império do Meio”, passaram-se anos de declínio onde se foram entorpecendo as qualidades guerreiras daqueles cavaleiros da estepe. A China mais uma vez, como sempre depois, não se deixara dominar. Passivamente sofrera a ocupação daqueles estrangeiros. Mas esperara: o tempo não conta para ela. Nos seus anais procura-se passar em claro sobre o domínio mongol, entre as dinastias “Sung e Ming” parece não ter havido o intervalo dos Khans. E não houve de facto para o chinês: a sua memória permaneceu junto dos antepassados, na lembrança viva dos seus imperadores legítimos, na prática dos seus preceitos de Confúcio. Andaram por ali, é certo, estranhos em volta a tirar ao campo o seu amanho, a amealhar riquezas que o seu labor juntara. Mas era um sonho mau que os ventos um dia trouxeram e que um dia levariam.
Entretanto a dureza do mongol ia-se quebrando naquele viver de conforto e de riqueza. O paço de Khanbalik em nada se assemelhava às tendas atapetadas que se plantavam no deserto, açoitadas pelos ventos do norte. A mulher chinesa, voluptuosa e meiga como pele de arminho, era bem diferente da masculinidade da mongol, de cabeça rapada e cavalgando com a energia que o seu viver de nómada obrigava. Kubilai reunira tesoiros, vivera com fausto, mais ainda era o homem forte da estepe. Depois começou o fim.
Entretanto a China levantava-se do seu torpor.
Ia continuar a viver. Da humildade de Chu Yuan-Chiang fizera um imperador. Era ao povo mais humilde onde se ia buscar a cabeça do império. A gloriosa dinastia “Ming” dava os seus primeiros passos.
Acendera-se mais então o ódio ao estrangeiro. Isolava-se, de novo, o “Império do Meio”.
Na memória do Ocidente não podia apagar-se a fama do Grão-Cataio que Marco Polo divulgara, que os monges de S. Francisco julgavam ter possibilidades de moldar na forma cristã. Quanta esperança se tinha desvanecido! Mas a Fé era tão forte naquele mundo antigo, a ambição tão acrescida por aqueles tesoiros revelados e que estiveram quase ao alcance da mão, que a Europa, como a China, também saberia esperar». In Eduardo Brazão, Em Demanda do Cataio, A Viagem de Bento de Goes à China, 1603-1607, Gráfica Imperial, 2ª edição, Lisboa 1969.
Cortesia de Gráfica Imperial/JDACT