sexta-feira, 27 de abril de 2012

Henrique VI. Rei enfermo que sofreu dramático destino. «Pode imaginar-se a reacção do pequenito, de olhos muito abertos perante a complexidade das impressionantes cerimónias incompreensíveis para o seu espírito inocente, ainda pedindo brinquedos, da sua coroação, tendo por cenário esmagador a majestade grandiosa de Wesminster!»


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«Foi um período de grandes e contínuas excitações sociais, na vida de Inglaterra, o século XV.
Durante muitos e muitos anos o país se viu convulsionado por nefastas contendas, ora de carácter externo ora de natureza interna.
Primeiro, foi a guerra, longa e perniciosa, com os franceses, para defesa das províncias que a Inglaterra tinha no continente. A seguir, foi a Guerra das Duas Rosas, que assolou o próprio território da ilha e através da qual duas poderosas casas principescas, a de Lancastre e a de York, se digladiaram inexoravelmente na disputa da coroa, arrastando no torvelinho dos seus interesses pessoais toda a população.
O turbulento conflito tinha as suas raízes no final do século transacto. A casa de Lancastre, saída do terceiro filho de Eduardo III, João de Gand, duque de Lancastre, ocupava o trono desde que Henrique de Lancastre (reinando sob o nome de Henrique IV), havia, em 1399, destronado Ricardo II, filho do Príncipe Negro e neto daquele rei Eduardo. Esta casa usava nos seus escudos uma rosa vermelha.
Por seu turno, a casa de York, de não menos prosápias, ostentava, em oposição àquela, uma rosa branca como distintivo, e descendia de Edmundo de Langley, duque de York, que fora o quarto filho de Eduardo III. Este ramo tinha-se aliado, pelo casamento, à família de Clarence, saída de Leonel, segundo filho do mesmo rei Eduardo, e havia herdado os seus direitos à coroa inglesa por sanção do Parlamento em 1385.
Os dois últimos soberanos reinantes, Henrique IV e Henrique V, eram da estirpe dos Lancastres, e, por morte deste segundo, em 1422, fora proclamado rei seu filho, Henrique VI, não obstante a sua pouca idade. Ele tinha nascido oito meses antes, no ano anterior, no castelo de Windsor
Quase ao mesmo tempo, morria, também, Carlos VI, rei da França, e Henrique VI, neto deste monarca, recebia igualmente a coroa daquele reino na sua cabeça infantil, sobre a qual iriam desabar tão acidentados acontecimentos.

Os dois tios do rei-bebé, o duque de Bedford e o duque de Glourcester, tomaram conta do poder em nome do sobrinho e ocuparam a regência dos dois países. O primeiro encarregou-se dos assuntos da França, enquanto o segundo ficou a tratar dos negócios ingleses.
Bedford desde logo se viu a braços com a guerra que os franceses lhe declararam, na reivindicação do trono da sua pátria para Carlos VII, e sobre os quais conquistou, de início, grandes sucessos pelas armas.

Entretanto, na Inglaterra, Gloucester, decerto por temer a acção dos pretendentes ao trono, promoveu a coroação do reizinho, tinha este apenas oito anos, de idade. Pode imaginar-se a reacção do pequenito, de olhos muito abertos perante a complexidade das impressionantes cerimónias incompreensíveis para o seu espírito inocente, ainda pedindo brinquedos, da sua coroação, tendo por cenário esmagador a majestade grandiosa de Wesminster!
Ás coisas em França parece que não estavam a correr bem para os contingentes militares ingleses, especialmente peio impulso patriótico dado aos exércitos franceses por uma simples e mística camponesa de Domremy, que gozava de extraordinário prestígio entre os seus. Joana d'Arc se chamava essa varonil figura de donzela-guerreira, protegida por Deus, ao que se murmurava.
Para obviar ao perigo iminente que a acção dessa mulher podia levar aos direitos de Henrique VI, os tios fizeram passar o pequeno monarca à França, onde foi corcado em 1431 na famosa catedral de Nossa Senhora de Paris. Após a solenidade, seguiu o reizinho para Rouen, onde residiu durante o julgamento de Joana D'Arc, presa devido a monstruosa felonia de alguns nobres seus compatriotas». In Américo Faria, Dez Monarcas Infelizes, Livraria Clássica Editora, colecção 10, Lisboa, s/d.

Cortesia de Livraria Clássica Editora/JDACT