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Renascimento
Sinto-me reviver extraordinariamente.
Rebentou outra vez a límpida nascente
da alegria, do amor, da fé, da juventude.
Primavera do corpo esplêndida - saúde,
eis-te de novo a rir com doidas gargalhadas,
que acordam no seu ninho as aves encantadas
da rica fantasia aérea dos artistas:
ardentes colibris, roxos como ametistas,
cotovias do azul, que na amplidão sonora
em fusos de cristal fiam a luz da aurora,
pombas - flocos de neve, em bandos pelo ar,
rouxinóis traduzindo em música o luar,
toutinegras de luz, milhões d'aves em suma,
desde o alcíone levado entre as ondas de espuma,
desde os melros joviais, ‘gavroches’ salteadores,
Offenbachs de Abril, sempre comendo flores,
assobiando e trazendo o luto mais sombrio,
como um boémio feliz que há pouco herdou dum tio;
até à águia negra, indómita, serena,
que só nos Pirenéus e só em Santa Helena
faz o ninho, e que vai pelo horizonte fora,
co'as asas cor da noite e os olhos cor da aurora,
transpondo em pleno azul, esbraseado, intenso,
com um voo pequeno um oceano imenso.
Poema de Guerra Junqueiro, in ‘A Musa em Férias’
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