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«O convento de N. Sra. Da Estrela de Marvão, localiza-se extra muros, a
nascente da denominada “Porta da Vila”. A sua edificação, fora do circuito
protector das muralhas, revela-nos que à data da sua construção, já estaria
provavelmente afastado o ambiente de guerras e consequente instabilidade socioeconómica
que caracterizaram o Portugal da Reconquista: talvez por isso, nem o edifício
da Igreja, nem sequer o do convento que se lhe adoça, foram estruturados de
forma a resistir aos ataques do exterior, encontrando-mo nos perante edifícios
que não manifestam as características de “Igreja-fortaleza”, tão vulgares em
época um pouco mais recuada.
Vários autores atribuem a fundação do convento ao ano de 1448, data à
qual, estaria já também longe e momentaneamente afastado, o perigo da pretensão
castelhana ao trono de Portugal, não deixando no entanto, e apesar do clima de
acalmia bélica, de ser estranho que esta Igreja e o respectivo convento se
abram tão despreocupadamente para o exterior. Não podemos esquecer que Marvão é
uma importante fortaleza da raia, e que em épocas de guerra funcionou como
estrutura defensiva fulcral para a resposta aos ataques do inimigo secular de
Portugal: Castela.
Esta aparente incapacidade para resistir aos ataques do exterior
leva-nos a colocar a hipótese de este espaço sagrado ter sido respeitado por
ambos os tradicionais contentores, prolongando-se o culto e a devoção à Sra. da
Estrela de Marvão para o lado de lá da fronteira, fenómeno aliás que ainda hoje
se mantém, confraternizando portugueses e espanhóis nas festas laicas e
religiosas uns dos outros.
Assim, a Igreja e o Convento poderão ter estado protegidos pela força
intrínseca de uma crença que naturalmente não conheceu fronteiras
político-administrativas. Disto que nos dá testemunho Fr. Agostinho de Sta.
Maria no santuário mariano:
- “… dizem que huma Senhora grande de espanha, vindo nos mesmos tempos da guerra referida, ou antes della, a visitar aquelle santuário da Senhora da Estrela, levada da grande devoção que lhe tinha, mandára com industria formar outra em tudo muito semelhante & que em huma das visitas que lhe fazia, a recolhera em hum bauzinho, que levava, deyxando em seu lugar o que mandara fazer”
Os poderes atrubuídos à Sra. da Estrela são tais que, como nos conta
ainda Fr. Agostinho de Sta. Maria, a mesma senhora concorre com a fortificação
de Marvão para a defesa do seu povo:
- “… em huma oacfião intentarão os castelhanos tomar a villa de Marvão por interpreza, ou traição machinada por algum que mostrou ser pouco amigo da sua pátria. E chegando depois da meya noite, quando se lhes reprefentou que tinhão bem logrado a sua diligencia, repentinamente lhes amanheceo, ou se antecipou o dia. E neste tempo tocarão os religiosos os sinos, ou do ceo mandou a rainha da gloria aos seus Anjos, que lhe tocassem a rebate”.
Não é sem razão portanto, que o mesmo autor denomina a Sra. da Estrela
de “Vigilante Sentinela”, que mais de uma vez terá, com a sua intervenção,
protegido os portugueses dos ataques dos castelhanos. Mas a razão da edificação
da igreja e do convento, naquele local, ainda que fora de muralhas, prende-se
sem dúvida com a lenda que a justifica. Conta-se que após a batalha de
Guadalete, em que foi derrotado Rodrigo, o último rei dos Visigodos, derrota
essa que abriu a Península Ibérica à ocupação árabe, os habitantes de Marvão
terão procurado a protecção das Astúrias, preferindo deixar a sua terra a
sujeitar-se ao invasor muçulmano. As imagens que não puderam levar consigo
tê-las-ão escondido de forma a evitar a sua profanação.
Cortesia de carmenbalesteros
Entre 1160 e 1164 e no âmbito da Reconquista Cristã e formação do território
português, o “morro” de Marvão voltou de novo à posse dos Cristãos. Diz-nos a
lenda que, pouco depois, numa noite de brenhas em que um pastor vigiava o seu
rebanho, este foi surpreendido pelo brilho inaudito de uma estrela, sucesso
esse que se repetiu durante várias noites, até que com um companheiro decidiu
subir ao cimo do monte, guiado pela misteriosa luz.
Aí chegado, veio a descobrir, oculta numa pequena gruta, a imagem que
durante cerca de 300 anos permanecera aguardando um oportunidade para se
revelar. Nesse mesmo local foi a imagem da Senhora, venerada e adorada enquanto
se lhe não construiu capela mais adequada.
A bula do papa Nicolau V, datada de 7 de Julho de
1448, autoriza a fundação do convento de N. Sra. da Estrela, mas pensamos que
nessa altura existiria já e pelo menos, uma pequena capela ou ermida em que a
imagem da Senhora era venerada. Possidónio Laranjo Coelho, dá-nos uma
informação importante. Para além da capela ou ermida, existiria já em 1258,
nesse local, um convento de franciscanos e de acordo com uma notícia que o
mesmo autor terá visto inserta num manuscrito da Torre do Tombo. A darmos
crédito a esta informação, teríamos que fazer remontar a origem deste Convento,
não ao século XV mas sim aos meados do século XIII». In Carmen Balesteros, Ibn Maruán, Revista
Cultural do Concelho de Marvão, Coordenação de Jorge Oliveira, nº 1, 1991.
Cortesia da C. M. de Marvão/JDACT